O DIA COMEÇA DE NOVO

Tem sido sempre assim, o dia começando de novo, mas o importante é pegar este novo dia como acontecimento único, de novidade sublime, porque ele é um elo sagrado na sequencia da vida. Sem ele não existirá o depois.

Algumas vezes lembrando o meu tempo de criança onde era pobre em dinheiro, morava numa casinha bem simples, mas sentia-me bem rico, porque não sentia falta de nada. Tinha o mundo todo pra ver e sentir

Gostava de conviver com as Professoras e reparava atenciosamente tudo que elas tinham de graciosos: cabelos, rosto, em especial a boca, seios, pernas, olhava as professoras com devoção e desejo. Era um desejo de estar perto, ficar em um olhando consentido, sentir que elas gostavam do meu convívio e muitas vezes beijavam meu rosto.

Queria crescer, mas estava satisfeito em viver os momentos do menino que fazia favores e também recebia um tostão de uma vizinha, vinte tostões de outra e de algumas não recebia nada, mas isso não tirava a alegria que eu sentia de fazer os favores que me eram solicitados: ir à padaria comprar pão, carvão na quitanda e querosene na venda, além de dar recados pra lá e pra cá, às vezes levando um bilhete e em outras, dando o recado verbal.

Nunca fui à missa, essa prática não era habitual na minha comunidade, talvez por ser distante da Igreja, aonde só íamos a dia de festa e minhas atrações maiores eram o cachorro quente, a pipoca e a maçã do amor, e com eles gastava minhas economias resultantes dos favores que prestava. Em uma festa eu gastava por outras festas que não existiam, eram muito distanciadas uma da outra, sendo que fora isso era o carnaval que reunia também barracas de comilanças idênticas as das festas da Igreja. A vantagem do carnaval é que as pequenas se vestiam com mais ousadia e deixavam as pernas de fora até quase o joelho, pintavam os lábios e faziam umas pintinhas no rosto. Gostava muito de olhar as meninas e pensar coisas que eu já sabia que elas também gostavam de fazer: dar as mãos e olhar um para o outro bem de petinho e piscar os olhos, com uma coragem que vinha sem que soubéssemos de onde. Uma coragem de carnaval, uma ousadia de uma vez por ano...

E ASSIM EU VIVIA O DIA QUE COMEÇOU DE NOVO, MEU LINDO DIA DE CRIANÇA