Recordar é viver

Recordar é reviver!

Há sempre um gostinho especial que nos encanta, quando temos a oportunidade de tocar, em certa medida, pedacinhos de nosso passado.

Reencontrar personagens que habitaram nossa juventude, que fizeram parte de nossa história, e de certa forma, resgatar emoções que permaneceram vivas dentro de nossos corações.

Provavelmente foram estes sentimentos que motivaram diversos casais e amigos a comparecerem num evento desta natureza, onde pessoas que se conheceram e conviveram quando jovens, se encontraram num baile organizado com carinho e entusiasmo.

Tudo muito familiar, agradável, contando com uma decoração apropriada e com direito a galeria de fotos, para animar os “velhos” jovens que se deliciaram, embevecidos com o viço da juventude expresso em cenas arquivadas para sempre...

Mesas lotadas, salão repleto de casais dançando, repertório da época embalando as lembranças, enfim, um típico acontecimento onde a amizade, alegria e saudade disputavam seus lugares no coração de todos os presentes.

Em meio a esse clima descontraído e amistoso, um casal chama a atenção de amigos. Não pelo fato de estar dançando, nem pela performance, que nada continha de especial. Mas pelo inédito de não serem reconhecidos pelos presentes e criarem toda sorte de indagações e especulações.

Quem seria o par misterioso que rodopiava animado pelo centro do salão, conduzindo a dama, reconhecidamente comprometida e que fazia parte da lembrança dos amigos!

Enquanto o referido casal, muito a vontade circulava alegremente, numa conversa animada e descontraída, amigos conjeturavam e desfiavam toda sorte de hipóteses, criando assim uma justificativa para tal procedimento.

Por várias seleções o casal se deliciou, adaptando-se aos mais diversos ritmos e completamente alheio ao que se passava ao seu redor.

Até que, cansados e bem humorados dirigiram-se para a mesa, ainda animadamente conversando entre si.

Após acomodar a dama em questão junto ao grupo que a esperava, o “desconhecido” cavalheiro dirige-se a outra mesa, onde se instalou tranqüilamente.

Amigos, discretamente, observavam a cena, espantando-se com a naturalidade com que tudo acontecia.

Tão logo iniciou outra seleção o marido da dançarina, que era alvo de tanta atenção, tira-a para dançar, e lá vai ela, novamente para o meio do salão, animada e alegre como sempre, uma vez que sua paixão pela dança, já havia sido notada pelos presentes mais atentos.

O casal sem dar-se conta de tanta observação, se entrega ao prazer do embalo movido pela melodia.

Quando ambos rodopiavam já no centro do salão, foram interrompidos por um amigo do casal. Amigo este querido e, de longa data, muito chegado.

Sem nem ao menos cumprimentá-los o dito amigo dirige-se a ela já solicitando explicações sobre o estranho com quem dançou por tanto tempo.

O casal, surpreso, identifica o dançarino como um amigo de infância, amigo dele também, o que deixa o interlocutor tão espantado quanto envergonhado.

O sorriso e comentários que se seguiram quebraram o clima de ansiedade e desconforto, provocando nos envolvidos reações amistosas e bem humoradas. Comentários sobre as mudanças que o tempo nos provoca foram o pano de fundo de um diálogo que ocorreu de forma um tanto atípica em meio à pista de dança.

Evidente que o protagonista deste episódio nem se deu conta do ocorrido, não imaginando sequer que amigos não haviam o reconhecido. Estava há tempo demais longe da cidade e muitos não o viam há mais de vinte e cinco anos.

Todos retomaram aos seus lugares, e sorrindo comentaram o ocorrido.

Interessante como a vida nos ensina sempre, em pequenos acontecimentos. Podemos perceber que o passado, em realidade, faz parte de uma herança que vamos angariando no decorrer de nossa vida, da qual devemos ser guardiões, zelando com carinho. É parte integrante de nossa história dando um colorido especial à nossa existência.

Mas vamos percebendo também que sendo passado, cumpriu seu papel e se foi, deixando as marcas como referenciais e tesouros que promoverão nossa evolução eternamente.

Ter a pretensão de perpetuá-lo como expressão viva, mantê-lo com a mesma natureza de quando o vivemos, é iludir-se e equivocar-se. É correr o risco de se perder na ilusão e assim, desperdiçar o presente, que é o tesouro vivo e a possibilidade real de sermos felizes.

É preciso viver, para que tenhamos um dia o que relembrar!

Priscila de Loureiro Coelho

Consultora de Desenvolvimento de Pessoas

Priscila de Loureiro Coelho
Enviado por Priscila de Loureiro Coelho em 09/02/2005
Código do texto: T3840