Uma ajuda por favor

No entra e sai do coletivo, naquela manhã, após uma hora de espera na parada, adentrei no ônibus e como não havia mais assento livre, em pé visualizava a situação. Foi quando pela frente entrou um rapaz. Deu um picolé ao motorista e outro ao cobrador e começou a falar:

- Me desculpem se estou incomodando a viagem de vocês, mas quem quiser e puder me dê uma ajuda. Qualquer valor.

Nesses termos ele enveredou ônibus adentro e com as mãos espalmadas recebia dinheiro de um e de outro.De muitos e de quase todos.

Ao final agradeceu e rogou a Deus que todos tivesse uma boa viagem e desceu.

Logo que desceu, subiu um senhor com a camisa de um time, bastante surrada vendendo picolé.

- Comprem o saboroso, quem comprar fica "gostoso" . Esse era o slogan daquele vendedor.

Nessa confusão o ônibus lotado, na outra parada entrou outro vendedor.

- Minha gente bonita, não se irritem comigo.Eu sou ex presidiário estou aqui para fazer um salário, pois ninguém me dá emprego.Tenho três filhos para criar e quem poder me dar essa ajuda agradeço.É só comprar um pacote de jujuba por cinquenta centavos ou três por um real.Agradeço a todos que ajudarem e que Deus dê um bom dia para todos.

Como se o ônibus fosse um grande túnel de esperança até o fim da linha era um entra e sai de vendedor e de trabalhador. Até que numa das viagens entrou um rapaz aparentando uns dezoito anos com a sua namorada com aproximadamente dezesseis e me apontou uma arma.

Em gritos ele falou:

- Ninguém se mexe, se não mato o motorista!

A mocinha se aproximou dos passageiros calados e começou a bacolejar.Era relógio, bolsas, celulares e tudo mais de valor.Depois foi ao cobrador, meteu a mão na renda e desceu pela porta de trás. Enquanto o meu mal feitor saiu correndo pela porta da frente.

Por uns quinze segundos todos calados respiraram e saímos do ônibus chamando ajuda.

Lotou de gente até um carro de policia se juntar a outro e fazerem a procura sem muito sucesso.

Em plena luz do dia seguimos a delegacia, registramos ocorrência e a única clemencia foi de estarmos com vida.

Quando íamos saindo da delegacia, não sei se por ironia ou por destino, estava lá no alto a bandeira brasileira oscilando "Ordem e Progresso". Me perguntei até onde as leis ou as políticas Públicas são nossos versos.

Vi muitas pessoas reclamando e me lembrei que no túnel de salvação, o ônibus, não é mais um meio de transporte e sim uma amostra da realidade no coração da cidade.Estamos sendo aviltados com sorrisos e lágrimas, enquanto os nossos eleitos bebem, dormem e comem em seus quarteis.A ditadura não é da força, mas da desordem, da falta de respeito com a cidadania.

A lei de Gerson é que rege o dia a dia e enquanto a gente não vê a luz do sol para todos, há que se viver dias e dias sem Democracia.