A Dádiva de Amar

Há sentimentos que ocultamos em nosso olhar e que nos exigem confissão. Anseiam expressar-se através da palavra, desejosos por se ouvirem em nossa voz; há emoções que querem sentir mais que o silêncio acolhedor dos nossos olhos...Desejam se oferecer a outro olhar, pronunciando-se em carícia ao universo.

Ao fim, quase sempre somos nós, que guardamos em nosso íntimo uma vida em solidão. Permitimos que emoções adormeçam, sem lhes dar chances de exalar seu perfume ou se fazerem presentes no experimentar das vivências. São emoções que escondemos de nós próprios sem que nos disponhamos a lhes dar a chance de desabrochar para o nosso próprio jardim.

Asfixiamos nossas confissões e desejos mais íntimos em poltronas de espera, aguardando, que em um momento ditado pelos deuses ou orquestrado pelo universo, possamos romper segredos que ocultamos de nós mesmos.

Vacilamos entre o medo da entrega e da nossa pouca habilidade para lidarmos com um sentimento que tanto desejamos a vida inteira. E vamos erguendo bandeiras à nossa volta – eufemismos para disfarçar nossa necessidade de marcar nosso terreno, nosso limite permitido de aproximação. E quando finalmente o tempo do sentir chega, vemos que erguemos nossas pontes, guarnecemos nossas muralhas e mantivemos nossos fossos, protegendo-nos no interior das armaduras de nossa indiferença...

Mas se tanto nós, como o mundo, fomos criados por um ato de amor, por que não participarmos da composição da sinfonia do universo, vez que é também a nossa nota que dá ritmo ao conjunto de sons orquestrados na partitura das emoções?

Se somos frutos de uma emoção, por que sermos econômicos com elas? Por que deixamos os bons momentos atrás da porta embolorando nos sótãos do nosso coração? Guardá-los para que, se nos tornamos melhores quando podemos dizer ao outro o quanto ele nos acrescenta e oferece novos matizes aos cenários que vamos trilhando?

Amar é descobrir a nós próprios; é como voltar à nossa morada interior para um encontro conosco mesmo...Um encontro ansiado, necessário e vital, mas que adiamos às vezes pela vida toda... Ainda que não compreendamos, o verdadeiro amor sempre prescindirá das atitudes de entrega do outro.

Fernanda Guimarães

Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 21/02/2007
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T388336