Anjo sem asas

Alimentei um sonho por quatro anos. Um passarinho ficou preso numa gaiola de ouro, onde tinha de tudo. Comida, luz, água, cuidados. Ensinei o lindo pássaro a trinar, cantar em melodias que ele não conhecia.
 
Eu dormia e acordava vendo-o crescer, no sonho, se emplumar, sofrer a amargura de estar sem liberdade. Meu coração, a dez mil quilômetros, sentia a falta, a fala, as peninhas tomando corpo sem mim.
 
A longa espera, do outro lado do oceano, enchia meus olhos de água salgada, que escorria peito abaixo. Aqui, eu cuidava do sonho, alimentava a esperança e dormia noites e dias pensando no reencontro, quando eu pudesse abrir a portinhola e soltar o bichinho.
 
O tão esperado dia chegou e eu senti medo, ansiedade, entorpecimento. Não queria soltar o passarinho, não queria vê-lo voar. Meu sonho voaria junto, pousaria num alto e inalcançável galho, onde eu jamais poderia subir. E o sonho se fez carne, nua e crua. Sem rodeios, sem floreios, numa picada certeira em minha frágil prisão. Agora, não sei se choro ou se sorrio. Perdi um amor, mas ganhei uma amizade...
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 26/09/2012
Reeditado em 27/09/2012
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