Somos todos mensaleiros!

- Espelho, espelho meu, existe alguém mais honesto do que eu?

- Não, meu Presidente. O senhor é o político mais honesto do Brasil!

A beleza - e também a sua ausência - não está apenas no objeto observado. Está, em grande medida, nos olhos do observador. Como se dizia na Roma Antiga: “à mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta.” Vencer a votação entre os magistrados da mais alta Corte brasileira não era suficiente. Uma larga vantagem seria fundamental.

O pesado jogo político-jurídico dos tribunais não inocentou os réus. Como seria bom viver num país onde o mensalão nunca existiu! À noite, quando os travesseiros recebem a fatigada cabeça dos seus respectivos donos em busca de repouso, todos encontrariam o sono dos justos. Ministros, réus – inocentes! – e a população. Afinal, tudo não passaria de um pesadelo. Ou, quem sabe, de um engano...

O governo do presidente Lula melhorou muito a vida do povo e cometeu erros gravíssimos. Quem faz o certo pelos meios errados é um mau exemplo, não um herói. A tristeza que acompanha uma notícia ruim não faz dela menos verdadeira. A máscara caiu. Nosso mito tem pés de barro. E eles estão atolados na lama. Infelizmente. Na democracia, nossa causa, ainda que nobre e justa, não nos permite transgredir a lei.

Caixa dois é crime. Assim como usar dinheiro público e ou privado para comprar apoio parlamentar. Se outros também praticam, estamos diante de vários malfeitores. Devemos aumentar o tamanho da lixeira, não do tapete! Trata-se de uma punição didática. Sim, os tucanos das Minas Gerais, debutantes no esquema mensaleiro, têm motivos para preocupação. A cronologia dos julgamentos não manteve a ordem dos acontecimentos, mas o desfecho deve se repetir.

Corruptores e corruptos em potencial passam a observar a cadeia como um destino possível. Estamos diante de uma novidade democrática. De uma evolução institucional à brasileira. Confesso que fiquei muito surpreso com as condenações. Há ao menos uma evidência indiscutível em todo o processo: o Partido dos Trabalhadores escolheu Ministros comprometidos com a Justiça.

A tarde que definiu a condenação dos três principais petistas em julgamento coincidiu com o início da temporada de chuvas no Planalto Central. O arco íris que emoldurou a Praça dos Três Poderes quando da condenação de José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoíno ilustrou as manchetes dos jornais no dia seguinte. Era um momento traumático para a nossa República. Adversários celebraram, aliados lamentaram.

A suspeita de um enorme esquema de corrupção não foi suficiente para tirar muitos votos do Presidente Lula na sua disputa pela reeleição. Seus resultados econômicos foram mais importantes, com fins justificando meios. Parte da população foi convencida pelos argumentos de que não houve corrupção. Por sua vez, se você simplesmente minimizou a importância dos acontecimentos e, mesmo com suspeitas, fechou os olhos e seguiu adiante, sinto muito. Você é um mensaleiro! As urnas inocentaram os réus, ainda em 2006. Em verdade, o julgamento foi bastante célere, quase um rito sumário!

Quando lamentamos nossa infeliz representação política, esquecemos que ela reflete a nossa imagem. Se a figura é feia, não nos reconhecemos. Assim como não existe filho de puta chamado Júnior, a responsabilidade diante de notícias ruins é sempre alheia. Somos vítimas, nunca dividimos responsabilidades. Se você busca a verdade, nunca interrogue um espelho. Afinal, sempre podemos atribuir culpa a elementos externos, se não gostamos da imagem. Pergunte ao travesseiro!