Cabeça Quente
              Edson Gonçalves Ferreira
           

                        _Quero uma tempestade urgente, Alice! Alice que chegara do País das Maravilhas me olhou espantado. _ Para quê, poetinha? _Estou pegando fogo, estou pegando fogo, Alice _ Isso é metáfora, poeta? _ Não é não, Alice, estamos fritando ovos no asfalto e, depois, dizem que vocês é que vivem de fantasia!Aqui não chove. Não respeitam a lei do uso do solo! É maracutaia para lá e pra cá e, de repente, onde não podia construir mais de cinco andares, colocam prédios de doze andares.  Na horinha, a Lebre Maluca passou, resmungando: _ quero água para fazer chá, quero água... Eu não sou doido, poeta, doido são esses de quem você está falando... Eu quero água pra fazer chá... Estou atrasado, estou..  Olhei pra Alice e disse:  _ Viu Alice? Até a água acabou!



                        Enquanto eu, distraidamente, conversava com Alice e olha a correria da Lebre Maluca, o gato de Alice ria, no beiral da janela, feito político depois que ganha a eleição e tripudia em cima do povo. Tem uns que até olham o povo com desdém, pode?  Olhei para ele e resmunguei: _Ainda peço a Rainha de Copas para cortar a sua cabeça! E parece que a Rainha ouviu por que entrou dizendo: _Até hoje, não pus os pés em Brasília, tenho que cortar a cabeça dos mensaleiros. Respondi na hora: _ Passou da hora de você ir lá! Uma espécie de Revolução Francesa no Brasil seria ideal. O gato de Alice achou bom demais e a Rainha de Copas disse:_ Não me enfrente, poeta, porque corto a sua cabeça também.




                        Nesse instante, vi a Branca de Neve que chegava e já era mordida por pernilongos e suspirava: _ Onde está meu príncipe para me salvar com seu cavalo branco e sua espada desses malvados. Eu olhei para a Alice e caímos na gargalhada. A Branca de Neve, dengosa perguntou: _Qual é a graça? Em coro, eu e a Alice respondemos: _ Do jeito que estão esses borrachudos, eles comem o cavalo e o príncipe. E, depois, caímos na gargalhada.
_ Nem com seus sete anões, Branquinha, você mata os bichinhos!





                        Foi então que senti o Menino Jesus puxando minha calça. Olhei e Ele me pediu colo. Vi que os bracinhos dele estavam cheios de mordidas de pernilongo. A Branca de Neve começou a soprar para aliviar as picadas e, neste instante, entrou o Peter Pan voando ao lado da Fada Sininho. Aí, aproveitei e perguntei: _ Peter e Fada Sininho, não tem jeito de vocês levarem para a caravela onde o Capitão Gancho mora esses pernilongos. Os dois sorriram de soslaio e me responderam: _ Impossível, poetinha, só mesmo uma chuva daquelas para acabar com esses monstrinhos.





                        A Rainha de Copas resolveu ser generosa: _Eu corto, eu corto, eu corto a cabeça deles... Caímos na risada e perguntei: _ Se a senhora for pegar um por um para cortar, vai passar a eternidade. Nesse instante, ouvi uma risada felicíssima e vi que era a Emília, entrando na festa e dizendo: _Eu não me importo, não tenho sangue. _ Nem eu, disse Pinóquio, porque sou feito de madeira! Aí, enfezei: _Eu boto fogo em vocês dois, danadinhos!





                         O Menino Jesus que, ainda. estava no meu colo, disse: _Vou pedir ao Pai para mandar mais chuva, mas vocês, poetinha, têm que respeitar mais a Natureza, do contrário vão sofrer muito daqui para frente. Aí, eu respondi: _O jeito é mandar a Rainha de Copas para Brasília para cortar algumas cabeças lá. Enquanto não fizermos isso, as coisas não entram  nos eixos! Escutando-me, a Rainha de Copas retrucou: _Cortar cabeças é comigo mesmo...  Eu completei: _ Nâo, só a senhora, mas tem político fazendo isso agora. E, então, o Pequeno Príncipe que estava do lado, sem que eu visse, mostrou o semblante e disse: _ “O deserto é belo porque esconde um poço nalgum lugar” e, aí, todo mundo se calou e o Menino Jesus sorriu
!
 
Divinópolis, 29.10.2012
edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 29/10/2012
Reeditado em 29/10/2012
Código do texto: T3958331
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.