PRÁTICA ABOMINÁVEL

Um dia desses em uma determinada calçada, observei uma prática que julgo no mínimo abominável: um certo comerciante que criou um jeito, não sei se é novo ou antigo de se divertir, colando uma moeda na calçada em frente ao seu estabelecimento comercial para que os transeuntes inutilmente tentem tomar posse dela. O que mais chocou-me na observação, foi ver uma menina de aproximadamente cinco anos, que passava na dita calçada com a mãe e os irmãos, aproximar-se toda feliz do que acabara de achar, mas depois de agachar-se, sentar no chão e fazer várias tentativas para apanhar sem sucesso a moeda, abaixou a cabeça com tristeza e seguiu correndo de encontro aos seus familiares que a aguardavam um pouquinho mais à frente. Talvez na sua cabecinha, o sonho de comprar com a moeda um pirulito ou chiclete fôra desfeito, através da atitude de pessoas que gostam de brincar com as pessoas, sem levar em consideração os sentimentos das mesmas. No estabelecimento comercial era notório os funcionários observarem gostosamente o fracasso da menina, sentindo prazer e um ar vitorioso por vê-la fracassar na sua tentativa. Essa prática abominável não tem nada de engraçado, a não ser o de revelar alguém que não sabe se colocar no lugar do outro e perguntar a si mesmo: como eu me sentiria, se fosse tratado pelo meu semelhante da forma que o trato? Se a resposta não for agradável, não é aconselhável prosseguir, porque isso representa violar a própria consciência e traz consequências desastrosas para quem pratica o ato de violar-se.

Na verdade a prática mencionada anteriormente na minha visão tem por finalidade fazer alguém de trouxa. Quando o candidato a trouxa é adulto torna-se um pouquinho menos abominável a brincadeira, afinal é só um trouxa, tentando fazer alguém de trouxa, porém a brincadeira de mau gosto se torna mil vezes mais abominável quando se tenta fazer de trouxa uma criança inocente.

Sei de crianças maiores e também de adultos que não aceitam serem rotulados de trouxas e fazem de trouxa o comerciante que aderiu à pratica da moeda colada, indo ao local à noite, após o fechamento do estabelecimento, munidos de marreta e talhadeira e extraindo a moeda colada, que não pode resistir às ferramentas. O ato é praticado não por necessidade de ganhar uma moeda, mas para que mais uma pessoa não seja feita de trouxa. Um velho ditado já diz que: " contra esperteza, esperteza e meia ".

O que acontece então, é uma guerra diária de cola e tira moeda da calçada, onde de um lado está alguém que sente prazer em perder uma moeda diariamente, como pagamento barato para se divertir vendo os outros fazerem papel de trouxas, enquanto do outro lado está

alguém a retirar o motivo por pura indignação: uma moeda colada na calçada por trouxas que tentam fazer os outros de trouxas.

Na verdade sempre teve, tem e terá alguém tentando nos fazer de trouxas, porque por motivos pessoais e desconhecidos acha que somos trouxas. A única forma de provarmos ao mundo que de trouxas não temos nada, é andarmos sempre com marreta e talhadeira nas mãos para arrancarmos da calçada da vida, todas as moedas coladas pelos outros, que almejam nos rotular de trouxas.

Antonio Alves
Enviado por Antonio Alves em 30/10/2012
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