MEU NOTEBOOK...

 
     Sozinha no quarto em frente ao meu notebook fico mais sentimental...Ele sabe disso e me olha ansioso, embora máquina fria e sem sentimentos... Mas mesmo assim se abre para que eu possa viajar em teu ventre anguloso e em sua alma digital. Ele sabe que meus dedos estão ávidos de saudades e de poesias. Ele sabe enfim, que vou jogar, sobretudo, com as palavras e se prepara, pois sabe que ficarei perambulando por ele por muito tempo. Ele sabe, por exemplo, que voltarei ao passado percorrendo velhas trilhas cheias de pó e saudade...  Ele sabe... Dessas saudades... Lembranças... Segredos... Solidões...
     É estranho, mas ali na sua frente, pego as palavras como se as visse pela primeira vez como na minha velha cartilha perdida no tempo e na memória. E elas se tornam mágicas e ainda fazem cócegas nos dedos como faziam quando menina e tinha nas mãos apenas um lápis gasto tentando descrever o entardecer ou o passeio na casa da vovó... Eu queria saber quem eram aqueles seres pequeninos e sábios que me levavam a tantos lugares... Até desconhecidos... Bastava eu querer... Hoje sei que eles me levam até dentro de mim e se transformam em poesias... E tem mais... a maturidade ensinou-me a usar as metáforas assim como as carapaças. Então posso dizer e ser o que não sou ou o que sou sem o perigo de me mostrar realmente ou até mesmo exagerar e fingir... Ah! Fernando Pessoa! Se soubésseis...
      Bem... De qualquer forma tudo fica mais fácil com meu notebook, amigo leal e talvez um divã submisso... Não, a tecnologia não tira a poesia das palavras... Agora sei... Porém, estava pensando: a poesia está de fato é na alma... Meu notebook que me perdoe. Contudo, sozinha no quarto, em frente ao meu notebook fico mais sentimental...
 


( Imagem google)