A EUFORIA CHAMADA CARNAVAL

Por que tanta festa? Um país para e faz tantos dias de festa. O que será isso? Isto se chama Carnaval; uma festa da qual o povo pobre e sofrido se orgulha de ser o sujeito, de ser o inventor. Talvez se orgulhem por tantas mulheres a requebrar despudoradas, exibindo as partes íntimas como objetos de prazer num grande mercado de luxúrias para satisfazer aos caprichos de ensebados endinheirados. Talvez se orgulhem de tantos acidentes causados por foliões embriagados, que postarão dores nas casas de outras famílias e das suas próprias com selo indelével da façanha do carnaval. Talvez se orgulhem por tantos abortos a frutos desse egoísmo insaciável; de tantos filhos indesejados, jamais amados por quem não tem amor a dar e para o completo abandono, para engrossar as fileiras do crime, da dor e da humilhação. Talvez se orgulhem por tantos recursos que o Governo gasta por males decorrentes de tanta devassa, quando mal custeia a demanda normal da saúde pública.

Por que tanta festa num país onde muitos não têm água, não têm o que comer e se morre por falta de atendimento médico? O que festejam? Do que se orgulham, se a escola pública e seus professores não recebem os devidos investimentos e incentivos, condenando esse imenso povo ou analfabetismo crônico, ao postar-se de quatro para o estranho explorador, à pouca instrução, à falta de consciência política, social e religiosa; predestinando esse povo ao sub-emprego e a salários de fome; predestinando-os a proselitismo, à dominação, exploração e o serem tratados como gado no abatedouro?

O que festejam, se cada dia mais dependem das migalhas do Governo? Do se gloria se não têm a hombridade de ganhar o pão, vestir e instruir seus filhos? Do que se orgulham, se cada dia mais são controlados pelas vontades dos ricos e dominadores do poder? Do que se orgulham, se os foliões nem mesmo são os sujeitos da encenação macabra do carnaval, mas são nada mais que os fantoches, os animadores sem calça dessa festa insana, fazendo graça para o tilintar dos caixas dos ricos, tais caixas que eles jamais verão, nunca tocarão e nem em sonho desfrutarão, apenas voltam para casa vazios, levando consigo nada mais do que as dores do cansaço de muitas noites de sono e o esforço exaustivo de mais uma noite a pular qual peão, até o completo esgotamento e a sensação de ter subido repetidas vezes no pau de sebo da ilusão, a sensação do anus esfolado no vai e vem do coito da insignificância, a sensação de não ter encontrado o que, talvez, só se poderá encontrar no próximo carnaval, mas depois de suportar outras tantas noites como essas noites desgraçadas.

Quão ridículo é alegrar-se em ser escravo pensando ser o dono da festa. Quão sórdido é sentir-se livre quando os outros riem das riquezas que se lhes produzem de graça a lamber-lhes o chão e lustrar-lhes os sapatos sujos de esterco. Que vexame é cambalear ébrio de desejo enquanto os poderosos se banqueteiam com o suor dos bobos, jogando-lhes de recompensa somente a casca das bananas vazias; nada mais do que as bolotas que os porcos comem. Como pode um povo inteiro ser puxado por argolas no nariz e se dizer livre, quando Deus deu-lhes a liberdade da razão, mas eles a trocam por sofridas noites de “melzinho na chupeta”, de esplêndida ilusão, enquanto os exploradores pilham seus sonhos, seus esforços, suas carteiras, suas dignidades e suas famílias.

Mas ainda assim, há quem diga: “E um dia, afinal, tinha o direito a uma alegria fugas, (...). A evolução da liberdade até o dia clarear.

Liberdade?!

Wilson do Amaral