Conversa de elevador

Cheguei no prédio cheia de materiais, estetoscópio no pescoço (orgulho de terceiroanista) e um jaleco no braço com o emblema denunciando minha futura formação em medicina. Geralmente as pessoas não têm tempo nem para abrirem portas para os outros, tempo é dinheiro... Abri a porta de entrada do prédio com dificuldade.

Enquanto esperava pelo elevador, pensando naquele dia cansativo, nos pacientes, um minicachorro pula na minha frente, me olha reprovadoramente e late. Odeio cachorros!!! Ou tenho medo deles, tanto faz...

Atônita não sabia o que fazer. Então, uma mulher enorme de grávida e seu possível marido apareceram chamando pela cadela, agora não me lembro o nome dela:

_ Ela não faz nada. – A mulher me disse percebendo meu terror.

Eu cheia de coisas, vi a luta dela com a barriga pra poder pegar a cachorrinha no colo. A gente tem que pensar muito antes de querer ter filhos...

Olhando pro meu estado e pro meu jaleco ela indagou:

_ Que ano você tá?

_ Terceiro.

_ Legal. Você já se decidiu pela especialidade.

_ Ah, estou pensando em cardiologia.

_ Não! – Disse o homem, possível marido dela.

_ Por quê? – Ela perguntou ao marido.

Ele então se voltou pra mim:

_ Cardiologista não ganha dinheiro. Existem inúmeras especialidades melhores hoje em dia.

Apenas sorri como se dissesse: “talvez essa não seja minha pretensão.”

O elevador chegou, dei graças a Deus.

Enquanto entrávamos, ela insistiu para o possível marido:

_ Mas cardiologista pode dar plantão. Não é?

_ Mas ele vai dar plantão pro resto da vida???!!!

Bom, desci no primeiro andar, mas ainda pude ouvir enquanto o elevador subia a discussão dos dois sobre minha futura profissão...

Jule Santos
Enviado por Jule Santos em 16/03/2007
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