BEM ME QUERES

- Bem me quer, mal me quer, bem me quer... Mal me quer!

Havia um tempo que eu ouvia aquela historinha repetindo-se do outro lado da parede, na área da frente da casa. Escrevendo não prestara muita atenção, mas, a voz da Sofia é uma voz cheia de luz e, na última vez que recitara o seu inocente mantra, o último mal-me-quer se fechou com uma exclamação seguida por um decepcionado de novo! E a luz tremeu na voz dela. Mas, havia uma nova tentativa pronta para ser posta em prática e me deu um sobressalto: as flores! Corri para ver e vi um monte de pétalas laranjadas espalhadas sobre o verde esmeralda da grama tenra e úmida; contrastando com elas os cabelos louros e os olhos azuis da minha menina.

Se fosse um moleque, tomaria um pitoco. Eu gosto das minhas flores nos seus respectivos ramos até que cumpram a sua função e, então, emprestem alguma beleza ao chão, mas, como repreender uma menina que brinca de despetalar flores em busca de uma resposta, que ainda são sabe, mas, que um dia certamente a levará a permitir o milagre da vida? Logo ela tão sensível diante de um mar de flores com tantas pétalas ao alcance da sua mão e a serviço da sua ânsia de sentir que é belo ser amada por alguém?

Certamente não se deu conta de que todas elas eram da mesma espécie, tampouco deve saber da genética, Mendel e suas Leis que precisei conhecer para saber do que eu sei agora sobre o novelo que envolve a vida nos seres orgânicos.

- Meu Anjo, não é assim que se brinca de Bem-me-Quer, Mal-me-Quer!

Disse-lhe na tentativa de não lhe quebrar o encanto e também salvar um pouco das minhas flores:

- Isso tem um segredo...

Continuei, entrando na brincadeira:

- Não se pode fazer muitas vezes de um mesmo jeito com um tipo de só de flor. Vamos procurar outras...

E assim o fizemos colhendo e se pondo a despetalar alternadamente Hibiscos, Jasmins, Margaridinhas, entre outras, variando sempre a maneira de começar a brincadeira, mas, não passando de quatro flores de cada espécie. Perco os anéis, salvo os dedos, pensei.

Logo o coração dela começou a iluminar-se ao ver surgir entre os meus dedos alguns bem me queres como resultado final. Claro que tomei o cuidado de não deixa-la tentar na minha frente porque eu sabia que o limite da minha interferência terminava ali. Apenas passei-lhe o conselho para que colhesse apenas quatro flores de cada espécie e começasse uma vez com o bem-me-quer e a outra vez com o mal-me-quer.

Contei-lhe que eu sempre fazia assim, mas que nunca podia fazer com muitas flores porque, se não, não dava certo e as flores não me contariam a verdade...

- Colhe agora as tuas flores e experimenta fazer do jeito que eu te disse. O pai precisa trabalhar agora. Tire quatro Margaridinhas, quatro Hibiscos e, depois, vai até a Cosmos e lá comece pelo mal-me-quer... Tá?

Era a hora de eu me retirar, essas coisa a gente tem que aprender a fazer sos. Logo, no silêncio da tarde, pude ouvir algumas exclamações cheias de luz e um diálogo de alguém que conversava com o seu próprio coração. Fiquei de orelhas em pé esperando para saber quando ela chegaria ao Cosmos, seria fácil saber: oito pétalas... e fiquei contando:

- Mal me quer, bem me quer, mal me quer, bem me quer, mal me quer, bem me quer, mal me quer e bem me quer! Oba! Oba! De novo! Mal me quer, bem me quer...

E outro resultado positivo. Ela não se dera conta de começar trocando a sentença, observei, mas, isso agora não tinha a menor importância... Fiquei pensando se ela também descobriria que cada flor contaria o seu segredo a ela para que quando quisesse ter a certeza de ser amada era só começar do outro jeito com aquela flor...

- Bem me queres, vida? Se não, começo de outra maneira a tentar descobrir os segredos de sempre chegar ao Bem como resultado final...

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 17/03/2007
Código do texto: T416233
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