Só mais uma casa roubada...

Você trabalha, economiza, financia, priva-se de alguns desejos para realizar seu sonho. Mais que uma estrutura de tijolos revestidos, você constrói um lar. Da forma que desejar deixará aquele livro no sofá, aquele copo sobre a mesa ou sobre a pia, a toalha... Perfeitamente estendida ou embolada num canto... do seu jeito. Seu! Seu! Seu!

Quando chega a noite sente-se acolhido em seu refúgio organizado ou com seus vestígios de desordem. Seu!

Até que descobre a sensação primitiva de um animal que voltando de sua caça encontra sua toca violada. Não é só mais uma casa roubada, tocaram no seu mundo, no seu canto. Alguém, ou seria alguma coisa, não dotado de noções básicas sobre respeito ao próximo ou dignidade, invade seu mundo, abre seus armários.

Nada sabe ele sobre aquelas fotos, da importância daqueles papéis, ou do quanto perambulou por lojas para encontrar aquele móvel agora derrubado e danificado.

Digitais estranhas por todos os objetos e paredes, roupas fora das gavetas e a sensação de segurança fora de seu íntimo.

Antes de contabilizar quantos bens já não lhe pertencem mais, lhe ocorre que o carinho da mãe em forma de gargantilha tão usada por ela e doada exclusivamente a você, tornou-se mero item a ser revendido em uma esquina qualquer.

O que é SEU agora? Transformação de valores... perda de valores generalizada. Seu lar torna-se subitamente assustador e frágil. Providencie travas para as janelas, e tente impedir que o coração se feche para a o lado bom que ainda existe na humanidade. É preciso reconstruir-se. É necessário reforçar as portas, janelas e a esperança de que o ser humano caminha em direção a evolução e não a degradação total.

"Dedico este texto à minha grande Amiga MARTA, que hoje ao narrar o fato concluiu dizendo: “o que eu tenho de maior valor não levaram: minha família e minha esperança”.