(Só) Solidão das imagens

(Só) Solidão das imagens

Caio Lucas

Hoje acordei qualquer hora, tanto faz a hora, era tudo branco ou era preto, não me lembro da última imagem, nem ao menos quem serviu o jantar do dia anterior.

As pessoas existem na minha vida, mas onde estão? Não me roubaram as imagens, apenas sumiram dos olhos da mente, devem saber que existo, mas não se mostram, não me deixam vê-las, já perguntei, mas não tive resposta, apenas uma desculpa.

Sei que preciso das imagens, das pessoas que me rodeavam, mesmo que só a imagem, não quero voz, nem aquele vulto sem rosto que me incomoda no meio da madrugada.

Lembro que pedi, mas a voz só quer ser a voz, o sentimento sonoro que me toca, me avisa onde está, onde foi, por onde vai estar daqui a pouco, mas nada disso me faz lembrar o riso, o rosto, a boca, a pele, a carne, o tempero, a temperatura do sangue que me faz e me fez sentimentos bons.

Tenho que esperar um futuro que não preciso, para ver ou rever as imagens das pessoas, não, chega, hoje acordei cego tentei apagar os meus ontem(s) e não os encontrei, não consegui, mas vou buscar imagens novas, pessoas que me olham nos olhos, mesmo distante do meu toque, do seu toque, do perfume que embrulha no lençol quando amanhece.

Quero imagens de hoje e não as que já não lembro, marcadas em fotos estáticas, coloridas de preto e branco que não mais me traz emoção, chega de voz, de som, de sim, de tudo vai passar, eu estou passando agora, sentindo falta do rosto, dos gestos, e, sentido morrer a cada noite nas imagens que não mais enxergo na minha lembrança.

Ás vezes me sentia rio, outras, mar, grande revolto, com ondas que sabiam por onde deslizar, provocava, gritava quando derramava nas areias, assim como se fosse um gozo ejaculando cada pedaço de prazer em cada sol ou a cada lua que descia e voltava mais tarde se mostrando e sorrindo para meu corpo.

Eu sempre acreditei no que posso fazer, mas preciso ver, me amarrar em alguma coisa, tocar com os olhos a imagem da minha hora, do meu instante, ninguém é um som que me cai no ouvido, sem imagem é somente uma ilusão de sim, uma afirmação, mas não tem nada em meus olhos, apenas um desenho que se apaga a cada barulho, sim, barulho, está mudando para um nada, um som sem nexo e sem conteúdo, sem carne, sem olhos, sem ela.

Como posso fazer as coisas pra eu sentir, preciso amar o amor que sinto, o carinho que enxergo, a imagem que me faz viajar um corpo, uma boca... Um beijo.

Não sou pessoa que vive do amanhã, não sei parar e esperar, não sei mais parar e pensar, é assim quando amo. Na verdade não há sentimento sem imagem, não sei amanhecer e fazer meus olhos brilharem por uma imagem abstrata, um sentimento que está escondido atrás de uma voz que me chama de meu amor.

Meu tempo não está perdido, todos os dias quando acordo sei que o amor está comigo, mas não consigo vê-lo, parece que o tempo passou pra depois, como tudo na minha vida está ficando pra depois, mas ainda temos tempo, todos os dias antes de dormir pego seu retrato e lembro sua boca, seu sorriso que ficou depois do último beijo, pena que, estou indo em frente e esquecendo sua imagem, as imagens de nós dois que não sei mais desenhar na minha mente, nos desejos mais puros, nas horas de tesão que deixou gravado no mais intimo das minhas vontades.

Amanheci com o gosto de sangue amargo na boca, acho que ainda não aprendi o caminho para chegar até você, tocá-la com a mente, fazer as lembranças aflorarem nos poros que arrepiavam quando ouvia seu nome ou tocava a foto de nós dois.

Desculpe se estou ficando sério demais, selvagem demais, meu sol está ficando cinza e já não sei ser aquele louco que tocava nuvens pra te ver, mas, você se esconde numa voz sintética dentro do meu celular, nas gravações de voz que declamou um dia, nas palavras sem som, sem imagem que também estão ficando cinza, como meu sol, meu coração, minha vida, meu amanhã sem esperança.

Quase sem querer perdi minha vida no meio do caminho, segui a voz a procura do seu rosto, estou impaciente, indeciso, quero caminhar, mas não tenho permissão, quero vê-la, mas não pode aparecer ou não gosta. A imagem exala como o perfume que durou uma noite inteira no travesseiro, aquele dia acordei contente, tive sua carne, seu cheiro,

uma imagem para carregar até outro sim, até outro anoitecer tranquilo.

Obrigado por tudo que fui feliz, daqui a pouco eu chego, não sei bem onde, mas tento caminhar sem rumo, sem o seu destino, sem referencia da sua imagem, não, não quero idolatrá-la, apenas ter seu retrato na mente, no amor que tanto amo, sim é amor, mesmo agora um amor sem rosto, sem carne, sem perfume, apenas amor.

Posso hoje contar milhares de historias sem inventar uma frase, não revivê-las, quero novo, diferente, não gosto de rotina, mas de acreditar que posso e vou fazer você em minha mente, desenhar pedaço por pedaço, novo, tudo novo, imagem cheiro, carne, gosto, não o amor, este é meu, é particular, escondido onde só eu sei, onde só eu nunca esquecerei.

Quando alguma coisa te faz mal pare, afaste-se, sua ausência ainda não me faz mal, ainda não, somente a falta da imagem para aguçar as lembranças, como se fosse vitaminas para tombar cada fraqueza que sinto, quando as pernas se negam a caminhar ou os olhos a enxergar o nada que estou enfrentando nestes tempos.

Acredite, não é brincadeira, não vou cortar os pulsos, mas vou mostrar o chão para que meus pés recomecem a caminhar, cada passo de vez, cada dia de vez, cada vez que não lembrar da sua imagem refletida no amor que carrego, não sei explicar e acho que ninguém vai entender.

Sei o que aconteceu, mas não o futuro que está por vir, posso garantir que não serei como antes, aprendi que não posso dar sem receber, nada mais me convence que sou importante, pedi somente uma imagem e se negou, ela se apagou, nada é o bastante para esse amor, não agora que voltei a olhar no espelho da minha pequena vida, quem sabe cresça, quem sabe agora a faça ser de alguém que me mostre a imagem do amor.

Preciso de um pouco de atenção, sempre precisei, mas deixei me levar por suas vontades, e agora, já não sei quem sou, me perdi na sua vida satisfazendo os desejos que nunca soube negar.

Estou com solidão de imagens, estou escuro dos olhos pra dentro das minhas lembranças, sei que amo, mas não sei como imaginar sua imagem, nenhum gesto,

passaram-se meses, nenhuma letra, nenhum rosto, apenas uma voz que fala no ouvido

coisas da rotina do seu dia a dia e que me faz cada vez mais estranho.

Esse é meu mundo que nunca é o bastante para me fazer feliz, ninguém vê quando chego ou vou embora, estou invisível para nós, para todos que pensam que não existe necessidade de ver o rosto, tocar na alma com uma imagem, por mais simples que seja.

Estou recluso a procura de mim mesmo, não posso e não quero viver oito, dez anos atrás, preciso seguir daqui até o fim do caminho, só não posso esquecer que estou envelhecendo cada segundo, o lugar que tenho para ir é fazer um café e beber sozinho no canto da mesa do escritório.

Não vou comparar as vidas, se encontramos quem sabe podemos nos reencontrar, não preciso viver apenas comigo, também não quero todo o mundo, me assusta não saber como você está, se seus olhos molham na noite fria de solidão, se o cabelo está da mesma cor, se o sonho te surpreendeu quando apareci de repente beijando sua boca.

Tenho medo e muitas vezes não consigo dormir, abro as gavetas do meu amanhã à procura do que desejei para dois e só vejo uma imagem, por que se esconde de um desejo tão simples, não sei responder, não sei mais lembrar como era antes, tudo mudou e fui aceitando, meus amigos estão me procurando, e eu continuo me procurando em você.

Por enquanto é isso, a vida parou, o sono apagou, o sonho não veio por falta de personagens, o caminho está apertado como o coração deste homem que nem sabe mais como escrever o amor, pois somente o vento lê, o resto fica jogado em qualquer lugar que não sei onde, pois não recebo respostas, todas as imagens desapareceram pelas estações que a vida passou.

Agora vou deitar para não dormir, somente para fugir da dura realidade de estar solitário da sua imagem, quem sabe consiga um colo no pesadelo da madrugada ou apenas fico esperando a noite ser engolida pelo amanhecer frio de quase outono.

Nada é difícil entender, nada é fácil entender, tenho apenas que esperar o dia amanhecer na minha janela, quem sabe um sol de manhã, quem sabe a vida me mostra a imagem da mulher que sonho ou que quero voltar a sonhar de amor.

Boa noite

Caio Lucas
Enviado por Caio Lucas em 09/04/2013
Código do texto: T4231716
Classificação de conteúdo: seguro