Retratos de Uma Vida (3ª parte)

Os consultórios médicos principalmente os de psiquiatria e psicologia, estão lotados de pessoas em desequilíbrio, eles são ótimos e nunca devemos descartar o auxilio médico.
Nas Igrejas as pessoas em desequilíbrio buscam sanar os seus problemas. Aguardam os milagres acontecerem, assistem a uma reunião na Igreja, choram se lamentam, mas bem não ultrapassam a porta da saída e já grudam o coração na vida alheia. Desconhecem que ao criticar maliciosamente estão faltando com os princípios da caridade consigo mesmo e com o outro. E nesses costumes de ler ouvir e não compreender a vida vai.
Chegando naquela reunião sentei-me.
Ali eu não era obrigada sequer a falar o meu nome e com o meu olho crítico de sempre, pude reparar tambem que existiam pessoas simples, humildes, cultas, de religiões diversas e eu. Não sabia o que estava fazendo ali, mas ali eu estava.
Perdendo meu tempo?
Ouvindo histórias que não me lavaria a lugar nenhum?
Justo eu que não gosto de perder tempo?
Existem situações e sensações que nem mesmo as mais eloquentes palavras conseguem traduzir. E a energia que existia naquela sala que nada tinha com religião, penetrava dentro do meu ser de tal forma que mais parecia que tampões saiam dos meus ouvidos que me impeliam a sair um pouco do meu egoísmo e entender que se eu posso carregar o mundo nas costas existem outras que sequer podem com um grão de areia e que devemos aprender a respeitar as limitações dos outros.
Geralmente os donos da verdade não deixam os outros falar, somente eles, conhecedores de tudo possuem o dom da palavra, e aqueles meus ouvidos que não estavam acostumados a ouvir de repente já não eram aqueles ouvidos que eu conhecia muito bem e em dois segundos eu entendi aqueles dez minutos do passado, quando me fez sair feito um foguete, resmungando: era só o que me faltava!
Num segundo eu entendi que aquilo que pode ser banal para mim pode ser causa de grande sofrimento pra outro.
Ali eu não era obrigada a dizer uma palavra, nem a ficar se não quisesse, ali também não conhecia ninguém, mas algo superior a mim mesma me fez ficar. E quebrando uma fagulha do meu egoísmo levantei-me, não para ir embora, mas para sentar lá na frente e dar meu depoimento e falar de livre e espontânea vontade porque estava ali.
-Para dar oportunidade a todos eram dados 10 minutos para narrar as experiências ou as dificuldades.
Sentei. E simplesmente não disse nada, pois foram os 10 minutos mais importantes da minha vida, porque ali simplesmente chorei, desfez ali o nó da angustia, da depressão, da tristeza e chorei as lágrimas embutidas de dentro do meu ser e pude observar que todas aquelas pessoas em silencio me emprestavam os ouvidos os olhos o coração em forma de entendimento porque elas também buscavam a cura das suas dificuldades. Ninguém disse uma palavra, apenas ouviram o meu pranto e me ofereciam lenços para enxugar minhas lágrimas. Ninguém me criticou porque chorei ninguém me perguntou o motivo das minhas tão sofridas lágrimas.
Ao retornar para o lugar que estava ninguém me dirigiu um olhar de piedade, ou de interrogação ou de reprovação, a reunião continuou normalmente, ouvi os depoimentos com mais atenção e no final da reunião todos me abraçaram e me davam boas vindas.
Pela primeira vez na minha vida, no caminho de casa eu compreendi porque não fiquei naquela sala na primeira vez, compreendi que estava seriamente precisando de ajuda e que o primeiro passo seria aceitar a minha impotência diante das coisas que eu não podia resolver.
Estava começando a entender a minha própria religião, o que ela dizia pra mim e eu não entendia.
Estava prestes a trocar de roupa para sair do fundo do poço emocional
 

Emedelu
Enviado por Emedelu em 09/05/2013
Código do texto: T4282031
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