Janela Indiscreta

Palavras!

Palavra dou a minha que eu nunca havia me preocupado em escrever sobre elas até então. Sempre me preocupo em manipulá-las com cuidado e respeito. E quantas vezes elas não nos pregam peças.

Lembro-me de uma vez em que havia um grupo de pessoas da Capital em minha casa e me juntei a elas, a fim de “fazer sala”. Eram intelectuais - ou melhor, se faziam passar por gente mais esperta que os moradores do interior. Em um momento da conversa, alguém disse que iria defenestrar um outro alguém.

Em minha vaidade de garoto de 13 anos, “entendido” de tudo, fiz ar de quem tivesse compreendido, ansioso por ter uma chance de ir até o quarto de meus pais e abrir todas as gaveta do guarda-roupa, a fim de usá-las como escada para pegar o volume do dicionário que continha as palavras iniciadas pela letra D, para satisfazer minha curiosidade.

Na primeira oportunidade, inventei uma desculpa e saí. Para que não percebessem que eu estaria consultando o dicionário, cerrei a porta do quarto e sentei-me na cama, a folhear o “pai-dos-burros” - apelido que, aliás, acho injusto. Da maioria das palavras que não conhecia, ninguém nunca soube me responder o significado; só o Aurélio.

Bom, quando estava, creio, prestes a encontrar a palavra - já estava lá pelo ‘Ded’ -, eis que percebo que alguém está para entrar no quarto, e, no impulso, a única idéia que me veio foi jogar o dicionário pela janela e me agachar ao pé da cama, como se estivesse procurando alguma coisa.

Quando saí, dirigi-me ao quintal às pressas, pois havia ficado preocupado com o estado em que deveria estar o dicionário - atirado do terceiro pavimento de nossa casa - e com a bronca que levaria de minha mãe.

Felizmente não houve estrago maior que algumas páginas soltas.

Assim mesmo tive a curiosidade de saber o que viria a ser “defenestrar”:

_ “Ato de atirar alguma coisa ou alguém pela janela”.