Os livros azuis

Em 1957, quando eu ainda nem pensava em nascer, meus pais, cumprindo uma de suas maiores características, deram um passo adiante no que seria a minha futura educação. Na verdade, ele deu a mim e aos meus irmãos, já nascidos, um passaport para que pudessemos viajar pelo mundo inteiro. Um passaport que nos levariam a lugares exóticos, mundo reais e imaginários, ao presente, passado e futuro. Não necessitava de carimbo, passagens e hotéis.

Mesmo não sendo pessoas de muita cultura, e de origem humilde, meus pais sabiam que a educação seria a melhor herança que poderiam nos deixar. E assim sendo, antes mesmo dos meus irmãos mais velhos começassem a aprender o alfabeto, a aquisição de livros e enciclopédias passaram a fazer parte das compras normais.

Uma das coleções que nos impactaram, chamava-se o "Tesouro da Juventude". Eram dezoito livros, cuja capa era azul (mais tarde eu descobriria que existiam edições com capas verdes e vermelhas), que reuniam uma gama de conhecimento, como história, arte, poesia, teatro, geografia e o melhor, o "Livro do Por que?".

Antes de aprendermos a ler, sabíamos que nas páginas daqueles livros de capas azuis, existiam mundos a serem explorados, descobertos, imaginários ou não. Enquanto não aprendíamos a ler, as figuras eram atrativas e desafiavam a nossa vontade de decifrarmos as letras.

Logo nossos companheiros de escapada, passaram a ser apelidados dos "livros azuis". Se você um dia os conheceu, entenderá o próximo parágrafo.

Com os livros azuis, eu vi Esmália enlouquecer.

Meninos eu vi!

Estive em pleno mar!

Conheci um Principe que não era feliz, apesar de viver no ponto mais alto da sua cidade!

Vivi um mar de escolhos.

Conheci um Rei que tinha um nariz de tordo!

Aprendi ouvir estrelas!

Ora direis, ouvi estrelas? Ouvi sim!

e foi quando descobri

que existiam mil e uma noites!

Tive livros de mão cheia, audazes guerreiros!

Que me ajudaram a conquistar o mundo inteiro!

Aprendi que sempre existirão respostas!

Estive em reinos distantes e próximos.

Andei pelas ruas de Roma!

Vi Pompéia eternizada!

Conheci a Grécia e os maiores artistas italianos!

Para quem sorria Monalisa?

Ela sorria sempre para mim!

Assisti a explosão de Bomba H!

Pude ver a estrela de Belém, que no céu,

fulgurante e pura, uma noite apareceu!

Aprendi que a verdade, era como a árvore que cantava,

que bastava ser semeada, para florescer no meio da injustiça!

E o melhor de tudo, sem nunca ter saído do sofá da minha sala!

Os livros azuis, foram e serão para sempre uma das melhores recordações da minha infância.

marta Cruz de Lima
Enviado por marta Cruz de Lima em 16/08/2005
Reeditado em 16/08/2005
Código do texto: T42930