Por que dia dos namorados? Existem coisas mais importantes em 12 de junho...

Minha galera!

Poderia colocar uma crônica, indo ao denominador comum de tantos internautas e escritores afins - entre amadores e os já versados na escrita. Porém, partirei de algo um tanto inusitado, com uma leitura reflexiva e crítica, sobre a data de hoje. Passível, por sinal, até de críticas. Mas, sem dúvidas, com um fundo de coerência.

Longe do aventado e bastante badalado dia 12 de junho, onde os apologetas do amor fácil comemoram o "dia dos namorados" - fruto da ação empresarial promovida em São Paulo na década de 1940, o dia 12 de junho não tem como ser comemorado historicamente. Chega a ser um dia triste. Por sinal, um digno "dia de finados".

Razões?

12 de junho de 1937, em meio à hegemonia dos movimentos nazi-fascista, no Brasil o jornal conservador O GLOBO lançaria um almanaque: "O Globo Juvenil". Como todo periódico - mesmo os mais singelos -, tem um conteúdo doutrinador, esta revista seria um marco na história da imprensa brasileira, como a primeira revista publicada pelas Organizações Globo, para aliciar a nova geração de jovens - provavelmente, mais tarde, os adultos de direita oriundos das classes média e alta que apoiariam o famigerado Golpe Civil-Militar de 1964.

12 de junho de 1940, no auge do nazismo, o Major-General Erwin Rommel, um dos maiores comandantes do III Reich, venceria uma batalha em Saint-Valery-en-Caux (França). Nela, 13 mil soldados franceses e britânicos se renderiam. Uma pesada baixa que repercutiria, dentre outras derrotas doas tropas aliadas, na ascensão do nazi-fascismo na II Guerra Mundial até 1943.

12 de junho de 1964, onde, na luta pela igualdade racial, o advogado Nelson Mandela, após condenado em 11 de junho, passaria a ficar em prisão perpétua no dia 12 de junho, na luta intransigente pelos direitos individuais e sociais dos negros contra o regime racial vigente do apartheid. Sua liberdade só viria 25 anos depois, em 11 de fevereiro de 1990.

12 de junho de 2000, com a triste tragédia da linha 174 (hoje como a linha 158, (Central–Gávea), em Jardim Botânico, bairro da Zona Sul carioca. O sequestro fora cometido à tarde, por Sandro Barbosa, um dos que sobreviveram na Chacina da Candelária. A professora Geísa Firmo Gonçalves seria morta, após mais de 4 horas de tensão. Fui um dos sequestros que impactaram a cidade do Rio de Janeiro, tendo sido objeto até da criação de um documentário "ônibus 174" e de um filme "Última Parada 174".

Pelo menos, hoje é o dia mundial de combate ao trabalho infantil. Uma luta que deve ser de todos nós, na defesa das nossas crianças. Dos futuros brasileirinhos.

Com tais fatos históricos, não há como comemorar o dia 12, a não ser como mais um dia, dentre tantos, que Deus nos dá para vivermos, lutarmos e marcarmos a nossa existência, com o afã e a luta de sempre.

Aos que comemoram o dia dos namorados, não os condeno. Comemorem. Apenas com uma ressalva: Delimitar o amor ao mero dia dos namorados significa mediocrizar o amor e apequená-lo àquilo que o sistema convenciona como "dia dos namorados". E, partindo deste argumento, se prosseguirmos, em uma análise filosófica e teológica cristã profunda, chegaremos a uma conclusão simples, mas aguda: se somos criaturas à imagem e semelhança de Deus e um dos atributos comunicáveis de Deus ao ser humano é o de amar (embora Deus seja a essência do amor), o amor jamais deve ser delimitado a um dia. O amor, como a essência maior de uma humanidade com virtudes e falhas, não pode se minimizar a uma mera data - ainda que alguns justifiquem a ideia de reconhecimento e de lembrança. Ora, o amor genuíno se faz diariamente, a custa do fruto da convivência, das contradições permanentes das pessoas amadas, da paciência, tolerância (em tempos onde o exercício desta pelo outro é NULA, em tempos de individualismo e egocentrismo fútil) e do perdão diário e mútuo.

Sem o exercício diário, a data do "dia dos namorados" torna-se um invólucro de comemorações fortuitas e esdrúxulas, tal como o dia dos pais, das mães, dos avós, dos tios, dos compadres, etc. Dia de amor é todo o dia, na tarefa árdua e sublime.

Que ninguém vos escravize com datas.

Mas aos que, como eu, não comemoram, por uma visão crítica, todo o respeito e admiração. O meu apreço.

Logo, em tempos onde vale mais o "sentir" do que "pensar" em uma visão acrítica de mundo, divergir e pensar diante do "sensismo comum" é uma tarefa heróica, perigosa e por vezes inglória, por não ser compreendido facilmente. E quem quer ousar a fazê-lo?

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Post-Scriptum: Não dá para cair no lirismo mais sem-vergonha de um direitista do PSDB como o Paulo Alberto Monteiro de Barros (codinome "Artur da Távola") em sua prosa poética "Ter ou não ter namorada(o)", feito em 1984 com a obra "Amor a sim mesmo". Justamente em 1984, em pleno auge do processo de redemocratização, quando os olhares do povo estavam focados no fim de um regime repressivo e autoritário.

Em que pese seu talento, chega a ser vergonhoso o "romantismo de ZS" descolado da realidade do povão. O típico romantismo burguês do eixo Gávea-Leme.

Wendel Pinheiro
Enviado por Wendel Pinheiro em 12/06/2013
Reeditado em 12/06/2013
Código do texto: T4338381
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