Protesto e Democracia

O protesto seria no Centro na quinta-feira. Fomos a um restaurante dentro de uma galeria na esquina da Paulista com a Brigadeiro. Quando saímos, já tarde da noite, deu a impressão que a cidade estava sendo bombardeada. A turma subia da cidade e, no choque com a policia, confusão generalizada. Meu filho quis ver de perto o que acontecia, mas não deixei; nesta hora sobra pra todo o mundo. Ao pegar o carro na Alameda Santos, um jovem apavorado perguntou onde era a delegacia mais próxima, pois os amigos haviam sido presos. Indiquei aquela na Estados Unidos, próxima da Augusta; pegamos o carro e saímos ladeira abaixo na Eugenio de Lima.

No dia seguinte, pelos jornais, deu pra ver que a coisa fora séria. As confusões do Oriente Médio e da Europa chegando por aqui. Um descontentamento generalizado com os governos incompetentes e gestões que geraram inflação e desigualdade social em nome de um socialismo falacioso, mentiroso.

Os jovens vão para as ruas. Será que vai adiantar? Lembra-me 68 quando berrávamos contra a ditadura militar, horrorosa, retrógrada; muitos foram presos, feridos, mortos. E o que veio depois? Valeu a pena? Veio uma democracia mentirosa, sucessão de governos desastrosos.

Deve existir uma forma mais inteligente de protestar contra a incompetência dos políticos que transformaram a arte de gerir o bem comum na de chegar ao poder e lá permanecer indefinidamente, privilegiando parentes e amigos. Isto não é democracia. A vitaliciedade e a recondução indefinida aos cargos não são compatíveis com um regime democrático.

Parece que vamos encontrando um novo caminho: protestar sem violência. Foi o que se viu em São Paulo na segunda-feira. E os protestos se espalhando por todo o País. A única arma capaz de conter a violência é a inteligência.

A mídia chapa-branca divulga que os objetivos são difusos e esconde os cartazes com nome de políticos corruptos; escusos são os motivos e interesses que a movem. Hoje existe uma mídia social que permite ver o que acontece com mais clareza, e não sob a ótica de impostores e manipuladores a serviço de interesses contrários aos do povo.

Tudo está muito claro: é uma revolta contra a administração pública em todos os níveis, a corrupção, a lentidão da justiça, a falta de escolas, hospitais, estradas, portos, saneamento, segurança; contra esta montanha de dinheiro despejada em quadras futebolísticas, enquanto a Nação carece de outras coisas que são essenciais.

Se o governo imagina que o povo precisa de uma bolsa qualquer, telenovela e futebol, o brasileiro que pensa não concorda.

O Brasil afundará como ocorreu com a Grécia, depois daquela Olimpíada desastrosa, se não tomarmos as medidas necessárias.

O governo não é nenhum partido ou associação de aliados.

O governo é o povo que deve ser ouvido e respeitado.

Nagib Anderáos Neto

.neto.nagib@gmail.com