Amores Juninos

Amores Juninos

Sabes bem que nunca fui adepta dos Festejos Juninos, mesmo sendo criada em uma cidade pequena, onde estas festas eram e ainda são, o grande acontecimento do ano.

Na verdade, em minha cidade espera-se as Festas Juninas com o mesmo amor que o povo amazonense espera os Festejos do Boi.

Ser Garota Simpatia em minha cidade é como ser Miss Brasil. Tem família que a três ou quatro gerações conseguem o título.

Para ser sincera com você, minha família é uma destas. Minhas avós figuram nas paredes da Biblioteca Municipal não como Professoras, Advogas ou Médicas que foram, mas como Miss Simpatia. A sinceridade tão comum aminha personalidade, estende-se ao fato de eu não ser tão bela quanto as outras mulheres. E nem é preciso olhar bem fundo, para entender que foi este autoconhecimento que me fez não gostar das Festas de Junho.

Que sou bonita é necessário que se fale. Faço questão! Sou orgulhosa de meus traços angulosos, meus olhos vivos e sorriso maroto, meus modos de adolescente esperta jamais me largaram, apesar de ser hoje uma mulher de quarenta anos.

O que não sabes é que sai de minha cidade – e fui a primeira mulher da família afazer isto desde que minha família chegou aqui no início do século passado. E sai daqui justamente por me sentir cobrada por todos de jamais participar das Festas típicas que por aqui acontecem. Vinte anos longos, frios e úmidos, porém belos, passaram-se por baixo da ponte que atravessa o Mar e separa nossa cidade – esqueço-me que também és daqui . Vinte longos anos e pouco tempo faz que voltei.

Voltei uma mulher vivida, cercada de amor de meus filhos- sabes bem que adotei três pequenos sapecas que a mãe morreu no parto, em meus primeiros dias de Hospital. São minha alegria e minha preocupação, deves imaginar. Mas sentia-me in completa. – por seus av

Chegamos aqui no verão passado – verão que só existe em nossa cabeça, como o Inverno manauara. Minha princesa querida foi convencida – e rápido demais para meu gosto – por seus avós e bisos a participarem desta Festança toda. E eu que nunca gostei destes Festejos, me vi envaidecida a preparar roupas e coroa para minha Princesinha.

Os dias acumulavam-se sobre minha mesa em forma de processos hospitalares e cartas que precisavam de urgente respostas. E-mails? Minha caixa de entrada quase entupiu! Telefone não parava mais. Mas me sentia envolvida, feito mãe de noiva em véspera de casamento.

Antes das Festas, como sabes, há a apresentação a Sociedade – acho estranho eles se autodenominarem assim! – das meninas que concorrerão ao título. Minha filhota foi aclamada de pé por muitos que esperavam que nossa família apresentasse uma novidade.

Meus pais e avós sentiam-se realizados e eu, mãe boba que sou – vi-me perdida entre lágrimas de alegria e sorrisos de orgulho.

No dia do desfile, minha filhota desenvolveu-se com orgulho na passarela. Seus sorrisos plenos e verdadeiros cativaram todos e na hora da dança típica pareceu-me ver as minhas primas queridas a balançar no salão, tão perfeita era a apresentação de minha criança.

A coisa se deu na hora da coroação. Sabes que é um representante masculino que sobe com a vitoriosa para receber a coroa. Meu pai subiu até o meio do caminho. E ali em frente a todos, chamou-me quebrando a tradição quase milenar e foi aplaudido. Não entendo nunca o carisma deste homem!

Subi sem graça ao perceber a quebra do protocolo e fui amparada por mãos desconhecidas. Olhos castanhos e firmes fitaram-me com precisão, como se eu fosse algo a ser guardado para sempre, em detalhes. Senti-me protegida e querida. Mas um homem forte assim deve ter alguém querida para receber seus olhares e algo mais, pensei e abaixei meus olhos.

O pensamento insano abandonou-me no mesmo instante que vi em minha frente minha querida filhinha a bater palmas para mim, como seu eu fosse a Miss Simpatia. O público que a tudo assistia, e cumprimentava com sorrisos, uivos e assobios e eu sabia que além do orgulho de verem minha Princesa prestes a ser coroada, me parabenizavam também por ser quem sou. Sei que meu povo orgulha-se de minhas vitórias!

Minha filha foi coroada enquanto eu segurava seu buque de flores. Foi lindo! O povo aplaudia e tudo era festa.

Naquela noite aconteceu o encontro dos pais das representantes do t’titulo. Nunca fui a um destes encontros e nunca imaginei que se tratasse apenas de uma gigantesca festa Junina, regada a muito quentão, xibiu e caipirinha e com todas as comidas destes dias.

Dancei feliz da vida até que senti-me observada. Sabes que percebo logo! Senti-me quase invadida por um olhar desconhecido.

Senti necessidade – ai esta alma feminina que em mim habita! – de ser mais sensual, algo em mim levava-me a esquecer quem sou e ser apenas mulher – mulher no cio! Dancei como nunca dançara, indiferente a todos os que me assistiam, me oferecendo aos olhos que me perscrutavam, mas que eu ainda não via...

Não me importava mais com nada e com ninguém, não era mãe, juíza ou dona de casa, era mulher apenas, latejante, quente, envolvente, disposta a conseguir na unha o que me desejava. Fosse quem fosse, desse o resultado que desse, queria mais que ser olhada, queria ser sentida, absorvida, amada.

Aos poucos percebi que os olhares que me cercavam eu conhecia sim. Era aquele mesmo olhar que vira no Palanque onde minha filha fora coroada. Mas nem a lembrança de minha filha ou dos filhos, que se apossou de mim, jogando em meu rosto a realidade, fez-me mudar de atitude.

Agora tinha um foco certo. Sabia para quem me ofertava e sabia que o fazia não como objeto, como dizem algumas mulheres, mas como fêmea que sabe de seu poder sobre um macho, de sua força que conhece seu poder.

Aproximei-me como as labaredas da figueira `a minha frente, impregnando meu perfume nas narinas desprevenidas do homem a minha frente. Era minha caça, meu premio, meu objetivo.

Confesso que todas as minhas inibições me abandonaram. Senti-me pura, santa, mulher e como tal, aproximei-me, convidando com os olhos e pedindo retorno com o corpo e, recebi o que esperava. Braços a princípio imprecisos, enlaçaram-me e dançamos como crianças que não sabem fazer outra coisa.

Os dias se passaram e para ser sincera, todo o calor que senti ao dançar com meu bem e ao amá-lo depois não me interessa contar.

Meu interesse consiste em contar-te o que senti quando pela primeira vez soube o que era um Amor Junino.

Tudo bem que só fazem quatro anos que vivo este amor delicioso. O tempo que passa me surpreende e aquece a alma. Sou feliz pela dança absurda que acabei por fazer para meu bem, mas valeu a pena. Hoje sou sua e sei que somos almas gêmeas, seres criados por Deus ou pela Natureza para se encontrarem e serem felizes juntos.

Amo aqueles olhos castanhos, firmes que sabem ler minha alma, amo aquelas mãos quentes como brasa que sabe tocar meu corpo sem consumi-lo. Amo os beijos quentes que me fazem bem e me despertam para o amor.

Amo ter esperado tanto por ele, pois somos perfeitos juntos, mesmo sendo seres completos quando distantes. Meu amor junino se estende pela vida, atende pelo nome de meu marido, mas ‘e apenas meu homem, detentor de meus desejos como sou dos deles.

Queres saber se um amor Junino vive eternamente? Nem nos vivemos assim! Queres entrar de cabeça neste teu amor junino amigo? Fazes bem!

Viva-o com alegria, pois o que levamos desta vida ‘e o que vivemos, o que aprendemos e o melhor dela ‘e viver e amar.

Sei dizer apenas que amores juninos são divinos, muito mais especiais que os de verão. Os amores de veraneio se acabam com a estação, os Amores Juninos, ao contrário, alastram-se pela vida e nos trazem felicidades mil.

Elisabeth Lorena Alves
Enviado por Elisabeth Lorena Alves em 01/07/2013
Código do texto: T4366361
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