Kilimanjaro - Dia 0: senhores, liguem seus motores!

Ficamos 2 dias na casa dos nossos amigos Daniel e Roberta. Ele também ex-colega de mestrado. Era na véspera do início da excursão. Agora posso revelar... A possibilidade de nova visão aérea do Kili foi determinante para que eu aceitasse a opção “fresca” proposta pelo Paulo de vôo a partir de Nairobi. Minha alternativa terrestre não era mero pão-durismo camuflado de preferência rodoviária. Eu queria mesmo rodar, ao menos um pouquinho, pela Tanzânia e pelo sul do Quênia, como fizemos na volta. Ao final, acho que o Paulo também aproveitou a experiência quase antropológica para os padrões dele. Ou não...

A partida começou com o caótico trânsito da capital queniana. Mesmo às 6:00 o horário de chegada é sempre imprevisível. Numa cidade onde há detectores de metais e somos revistados em shoppings, entrar e circular no aeroporto não é tarefa simples. O avião Embraer da Kenya Airways nos deixa temporariamente mais perto de casa. Deixei um país ao sair de férias, encontraria outro na volta. Um período de mudanças pessoais e nacionais.

Eu diria que o sentimento predominante é de expectativa, não de ansiedade. Estou curioso,um pouquinho preocupado e muito animado. Esperamos pelos primeiros passos na trilha, pelas primeiras reações com a redução do oxigênio disponível. As famosas “neves do Kilimanjaro”, imortalizadas nas letras de Ernest Hemingway, são sempre citadas quando o assunto é aquecimento global. Deixo a polêmica para os especialistas.

Chegar ao cume do Kilimanjaro é o grande objetivo. Claro, queremos conhecer o teto da África. E como diz uma famosa frase do montanhismo – usada com malícia e trocadilho – “só o cume interessa!” Ter aquela oportunidade, estar ali era uma experiência fascinante com qualquer desfecho. Busco contato com a montanha. Não avalio a esperada chegada ao topo como vitória – o termo exigiria uma derrota como contraponto. Trato como uma questão de sintonia. Era uma possibilidade – a mais desejada – entre um conjunto de possibilidades.

Lembro do Mr Keating e da sua Sociedade de Poetas Mortos: Carpe Diem! Aproveitem o dia. E depois, ele completava: “tornem suas vidas extraordinárias!” Eu diria que estava me esforçando na direção certa. Seriam muitas experiências em pouco tempo fora de casa. Ou como alertou o dono da agência responsável pela excursão, com um largo sorriso: “cuidado, essa montanha muda a vida das pessoas!” É o depoimento de quem largou a exemplar qualidade de vida nórdica pela Tanzânia.

Não estamos mais na temporada de chuvas, porém o microclima da região é imprevisível. Vento, chuva, neve e sol são os ingredientes. Mas só saberemos as quantidades escolhidas ao provar o bolo. Há uma certeza: oxigênio será apenas uma pitada! Tempo para os últimos preparativos. Tempo para poupar energia. A pizza foi uma ótima pedida.