Mundo Idiota

Neste sábado faleceu minha vizinha, nem sabia que ela estava doente ou internada, passou dez dias na UTI. Neste período conversei com o marido e o filho e nenhum deles me falou da esposa e mãe. Falamos do São Paulo, do Santos, como os nossos times íam no campeonato paulista, mas eles não falaram do problema de saúde em família.

Moro em um condomínio de casas e, não sabia do que estava acontecendo com o meu vizinho, eles não compartilharam ou não quiseram me "pertubar" com os seus problemas (talvez seja isso que tenha acontecido). Eu e minha esposa ficamos e estamos, até agora, muito chateados, muito tristes com o acontecido.

O que me deixa mais indignado é que recebi a notícia do falecimento da minha vizinha pela internet, MSN. Era onze horas da noite. Uma amiga avisou ao meu filho. Ficamos chocado, não quis acreditar.

Bati na casa do vizinho, estava tudo escuro, sinal de que não tinha ninguém (pensei: Será que a notícia é verdadeira?) Procurei outros vizinhos para confirmar a notícia, todos estavam dentro de suas casas. Fui à casa de outro amigo do condomínio, ele não estava, sua esposa estava quase entrando no banho, mas vestiu-se para atender-me, pedi desculpas e perguntei se era verdade a notícia do falecimento da nossa vizinha em comum. Ela confirmou, disse-me que estava vindo do velório, que soube do falecimento no sábado de manhã.

Voltei para casa e relatei à minha esposa os fatos. A vizinha era diabética, escondia até do marido. Uma senhora, ascendência italiana, muito expansiva, trabalhadora, morava a mais de 20 anos no condomínio. Era conhecida por todos.

Este é um mundo sem graça mesmo. Se este caso tivesse acontecido numa cidade interiorana, creio que a cidade inteira saberia, com antecedência, do que estava acontecendo, mas eu moro em São Paulo e, não sabia o que acontecia com a familia do meu vizinho. Vim saber pela internet. Que coisa mais sem graça! Que coisa triste! Sinto-me um idiota! Minha esposa está inconformada com o acontecido.

Acordamos às 5:30hs e fomos ao velório, no cemitério do Campo Grande. Tinha cinco pessoas sendo veladas. Três homens e duas mulheres. Só neste dia vim saber do verdadeiro nome da minha vizinha, todos a chamavam de Dona Nêga (apesar dela ser branca), mas seu nome de registro era: Caritas. Ela devia ter em torno de 55 anos de idade. Morreu relativamente jovem.

A casa do meu vizinho está silenciosa, a Dona Nêga não está lá cuidando da casa, lavando o terraço, a calçada, conversando com todos, como fazia todos os dias.

Desde sábado à noite me sinto um idiota. A morte tem a capacidade de reduzir o sentimento do homem ao pó, literalmente.