ASSOMBROS COTIDIANOS.

Quando penso que de minhas lágrimas já bem distante me encontro.

Ói, elas!

Elas, como sempre chegando, sem que importe à hora ou lugar, banham-me o rosto às vezes suavizam-me a alma.

E em outras meu pensar tal qual àquelas em jorros desemboca na apreciação das causas que me fazem calar.

Hoje me são mais abundantes que ontem, pois já não proveem de meros sentimentalismos, por se haverem tornado – Um manifesto tácito ante os assombros cotidianos da vida:

É fome,

A cocaína em cápsulas no estômago;

Crianças no lixo,

Políticos no luxo;

É a ignorância rebelde

A cultura da intolerância;

Um rato gordo no portão;

Mais uma moto no asfalto;

Vidas por um fio;

A pendura realizada por cartão;

É o vilão bolinando o filho;

São águas de março findando o verão;

O arrastão no condomínio;

Os não sabem o que diz;

É verme espancando ancião;

Tiroteio no morro;

Turista pagando pra ver;

Torcida fiel tal qual gang;

São bêbados se equilibrando no volante;

O assalto do ônibus;

O doente moral

A desconstituição do compromisso;

O sexo nas rodas

As grades altas do meu portão;

É o medo;

É a sangria do lastro

E as mortes sem leito;

São jovens assaltando o banco;

É a hipocrisia;

A falta de educação;

O devassar da nação;

O abandono na calçada

O abrigado pelo frio;

Mais um não;

O porco comendo a merenda

São os amorfos da corrupção;

A angústia invadindo a multidão;

É o resgate do sopão;

É a gente;

A vida;

O fim...

Certamente, que não!

São, só, minhas lágrimas, desaguando emoção.

Cláudia Célia Lima do Nascimento
Enviado por Cláudia Célia Lima do Nascimento em 04/09/2013
Reeditado em 05/09/2013
Código do texto: T4466814
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.