UMA PORTA PARA SAIR DO CAOS

Uma Porta para Sair do Caos

Por Robério Matos (*)

Vivenciamos mais uma fase negra e duradoura na história da humanidade, quiçá a mais sombria já experienciada, onde praticamente perdemos a noção dos valores ético-morais; do rumo; do horizonte.

Seria cansativo e redundante aqui expor minuciosamente o dia-a-dia do terror que se apossou dos cidadãos, do mais humilde ao detentor do poder econômico ou institucional, haja vista ser de domínio público o caos instalado no globo, no que respeita à desordem, insegurança... Ao medo!

O desequilíbrio emocional, o estresse e o pânico já conquistaram lugar de honra no nosso cotidiano: tornou-se “normal” - o “prato do dia” - os sobressaltos, os hábitos defensivos, a suspeição e as conversas e pensamentos voltados para a violência e o crime urbanos.

A mídia, por seu turno, jamais experimentou a queda da audiência ante a falta de sua principal matéria prima: a desgraça alheia. O tema violência nunca sofreu qualquer abalo; qualquer perda, pois ele é auto-sustentável e um multiplicador por excelência.

O que mais nos deixa apreensivos é essa sensação de impotência; de que já perdemos a batalha; de “...fazer o quê? Temos que nos adaptar a essa nova realidade...” e por aí vai... Estamos bem próximos da realidade imaginada no seguinte poema, cuja questionada autoria é atribuída a Bertolt Brecht:

“Na primeira noite, eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim: não dizemos nada. Na segunda, já não se escondem. Pisam as flores, matam o nosso cão e não dizemos nada. Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.”

Não! Urge fazermos algo que tenha efetividade; que possa estagnar a chaga desse mal, posto que as tímidas ações até agora adotadas pelo poder político-econômico têm-se revelado ineficazes, dado o grau de complexidade e à contaminação generalizada do medo que se instalou em toda a sociedade, sem contar que o “vírus da maldade” se acha a cada dia mais resistente aos antídotos e à profilaxia em geral.

O quê fazer, então? Eis o impasse.

O Mal por si só não existe. Ele apenas brota na medida em que as forças do Bem estão dispersas ou adormecidas.

Semelhantemente, a Treva só ocupa o seu espaço enquanto a Luz não mostra a sua face.

Existe uma consciência profunda, coletiva e universal, e todos os seres e coisas estão interligados entre si e com a natureza, o cosmo e

nada há no universo – em todas as galáxias, conhecidas, imaginárias ou ocultas à consciência humana – que não esteja interligado à massa ou campo quântico dessa singular “empresa”.

Os pensamentos, intenções, movimentos e ações – mesmo inconscientes, uma vez ativados, mobilizam-se e influenciam esse campo coletivo; esse emaranhado de coisas e seres.

Os bilhões de homens que habitam a terra, de alguma forma têm, diuturnamente, pensamentos, intenções e desejos semelhantes e sobretudo simultâneos e isso sucede neste agora: enquanto você lê esta reflexão, muitos de nós têm pensamentos e sentimentos de otimismo, amor, paz, solidariedade... ao passo que outros tantos estão a conspirar e a difundir, intencionalmente, o medo, os conflitos, o egoísmo... O caos, enfim.

Aí está, portanto, a única saída: a força, o poder do pensamento coletivo!

Esse pensamento (canalizado para o Bem) precisa ser estimulado diária e intensamente em uníssono, e para tal necessitamos de uma “mãozinha” dos veículos de comunicação de massa e, nesse sentido, a sociedade deve mobilizar-se junto às lideranças políticas a apresentarem um Projeto de Lei, ou mesmo uma Medida Provisória, que, semelhantemente ao Horário Político Gratuito, obrigue as emissoras de rádio e televisão a concederem espaço (em horário nobre) para que as instituições afins, não partidárias e não sectárias, produzam programas de alto nível (técnico, estrutural e de conteúdo), vinculados ao tema Paz, Cidadania, etc., aí introduzida a reeducação dos hábitos e costumes (da forma de pensar e agir de cada indivíduo) nocivos ao bem-estar da coletividade.

(*) roberio@natal.digi.com.br

Robério é microempresário, poeta e escritor semi-profissional.