Mentira ou verdade?

Impressiona-me que nesta nossa era virtual ainda tenham pessoas que julguem que o escritor somente escreva sobre as suas vivências tal qual adolescentezinho choroso que escrevesse em diário as suas mazelas românticas.

Se fôssemos somente isso, que pobreza literária! Quem nunca tivesse experimentado um vinho não poderia descrevê-lo, quem nunca tivesse sido traído não poderia escrever sobre essa emoção arrasadora, quem nunca tivesse cometido suicídio...não poderia contá-lo ou fazer senti-lo.

Ser escritor é poder brincar com essa dubiedade realidade-fantasia em níveis inimagináveis pelo leitor. Ser escritor é poder mentir sem levar palmada e contar a verdade sem ser censurado.

Ser escritor é poder falar palavrão com nosso personagem, é orar sem precisar estar de joelhos.

Ser escritor é ser abençoado por uns e achincalhado por outros. Seguidos por aqueles e difamado por estes.

Não queiram encontrar semelhanças onde imperam as diferenças. Não achem tempestades, onde somente há brisas...

Venho tentando aprender a arte de escrever e de me desprender do eu-escrevente. Tenho escrito textos que contam verdadeiras mentiras. Nunca as vivi a não ser no meu imaginário literário. Não preciso, enquanto poeta, ser coerente.

Não me cobrem coerência, verdades, semelhanças. Mesmo quando eu disser que estou escrevendo verdades, pode ser uma mentira. Não sou jornalista. Não tenho compromissos com realidades.

Invento nomes, gero personagens. Ninguém poderá afirmar: "sou eu, tal qual", ao mesmo tempo em que se vê naquelas atos, naqueles sentimentos, naquela descrição. É, mas pode não ter sido.

Qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência. A não ser quando eu aviso: juro que é verdade! "Meninos, eu vi!" *

Mesmo assim, fiquem com um pé atrás. Afinal, sou uma criadora de histórias, tentando ser escritora.