VANGUARDA CULINÁRIA

VANGUARDA CULINÁRIA Maria Teoro Ângelo

Na Literatura também houve a chamada Vanguarda Européia, que englobava várias tendências, os “ ismos”, Dadaísmo, Futurismo,Surrealismo, Expressionismo e Cubismo, preocupadas com uma nova interpretação da realidade. O vanguardismo culinário também se preocupa em mostrar uma nova concepção na arte de cozinhar. Tanto lá como cá há a predominância da audácia, da ruptura com o convencional e conseqüentemente da coragem. Nos dois casos, a busca do novo.

Quando o artista quer ser radical, quer dar asas à imaginação, pode se transformar num gênio ou num enganador cuja única virtude é ser diferente. Para a arte que produz pode encontrar quem aprecie e quem odeie. Dos “ismos” temos um Picasso e um Salvador Dali e muitos que se perderam no niilismo do que propunham como o menosprezo pela mulher, a glorificação da guerra, a negação do passado. E tudo para dar uma sacudida na imobilidade criativa.

A tal cozinha conceitual combina elementos na produção de uma obra de arte como se pode notar pelo arranjo dos pratos no ensejo de produzir o belo, na criatividade exagerada na combinação dos sabores, a mistura do doce e salgado, a adoção de um vocabulário específico para denominar coisas já tão conhecidas. O purê vira espuma . Molho encorpado vira molho em redução. Não importa o senso: sorvete de ovo, pastel recheado com gema mole, alguma coisa recheada com pé de porco em pedacinhos e outras invenções que me dão enjôo só de ler.

É que as revistas escrevem sobre a novíssima tendência e a novela das oito está fazendo uma crítica irônica a esse tipo de comida. Uma vantagem ninguém pode negar. Quem for adepto dessa comida com certeza emagrecerá. Pouca quantidade, sabor a ser analisado e um preço salgado como de tudo o que tem grife e é novidade.

Li que um prato assim surrealista pode evocar o gosto da infância. Meu primo Flávio adorava comer bife com doce de goma, aqueles tabletes vermelhos cobertos com açúcar. Fazia um sanduíche dos dois. Ele com certeza poderia apreciar essas misturas. Comigo seria difícil, pois ainda gosto do bife bem passado, do arroz feito na hora, ainda molhado, e de tudo o que escolho sem dificuldade. Sei exatamente o que é saboroso. Não gosto de inventar e nas coisas simples é que se testa o bom cozinheiro.

Por outro lado, o prato conceitual é uma pintura, de bom gosto extremo, adornado por arabescos de molhos e especiarias. Maravilhoso para comer com os olhos. Qualquer dia qualquer combinação emplaca. Na base da tentativa e erro muitos sonhos darão certo, se é que já não deram. Minha opinião não serve de base. Nunca mudo meus cardápios e nos restaurantes que freqüento e que são poucos, o garçom até já sabe. Quando cozinho, procuro a estética da mais nova das novas cozinhas e o sabor mais antigo e consagrado. Nada de molhos agridoces, excesso de ingredientes que mascaram o sabor do ingrediente principal. Nada de pitadas de invencionices. Esse dom eu reservo para outros departamentos. 30/04/2007

Lillyangel
Enviado por Lillyangel em 30/04/2007
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