O peixe no aquário

Em setembro do ano passado, entrou ladrão na minha casa. Ele arrombou a janela da cozinha, pegou minha mala vermelha de rodinhas e colocou tudo o que conseguiu, dentro da mala. Meu DVD, presente de aniversário de minha mãe, com um filme da locadora dentro, o qual tive de pagar; todos os CDs do Eminem da minha filha Lara; meu tênis; várias roupas; todas as minhas bijuterias (exceto as que eu portava); minhas poucas jóias, porém valiosíssimas ao meu coração; todos os perfumes e todas medalhas que ganhei ao longo da minha vida de atleta (quando bem sucedida e quando frustrada).

De tudo o que ele tirou de dentro de casa, duas coisas me surpreenderam profundamente. E me intrigaram. Ele levou livros! Vários livros meus. Tantos que nem lembro os nomes todos para discriminar aqui, nestas linhas. Todos os meses eu ia ao sebo e comprava um exemplar do Saint’Exupéry ou do José Mauro de Vasconcelos. Sonho em ter todos os livros deles, meus autores preferidos. Romancistas, claro, para não ferir os sentimentos dos meus poetas diletos! Fechado o parêntese, volto ao roubo: esse ladrão é um moço culto! Ele levou livros de minha casa!

Fico imaginando o moço presenteando sua amada com meus perfumes, meus brincos, anéis, pulseiras... meu tênis e minhas roupas. Imagino os dois, sentados, embaixo de uma mangueira, num domingo à tarde: ele lendo um dos livros, ela tentando ler e tentando gostar para agradá-lo. De vez em quando, ambos levantam os olhos dos livros, seguram-se nas mãos, olham-se e suspiram apaixonadamente. Depois, olham extasiados o peixe da Rita, dentro do aquário, que o ladrão, caprichosamente, levou embora de minha casa e que, imagino, deva ter colocado sobre a estante da sala.

Margot Jung
Enviado por Margot Jung em 03/05/2007
Código do texto: T473042