PREFIRO AS BRANCAS

O interfone tocou, era o porteiro anunciando que havia chegado uma encomenda da floricultura para mim. Não me causou nenhuma ansiedade, ou era mais um arranjo de flores do meu namorado apaixonado, ou então, de mais algum amigo educado da família me desejando pronta recuperação, já que havia passado uma semana internada no hospital, tratando de uma infecção urinária. 

Estava então com dezesseis anos e ainda não tinha idéia do fascínio que os meus olhos verdes causariam nos homens. 

Recebi um lindo buquê com duas dúzias de rosa vermelhas com um cartão: “flores para uma flor que tem os olhos mais lindos que já vi em um simples olhar”. Achei meio lugar comum, “flores pra uma flor...“, mas tudo bem, nessas horas o que vale é a intenção, e o buquê era realmente lindo, e eu adoro ganhar flores, é uma excelente forma de me conquistar. 

Mas fiquei extremamente intrigada e curiosa com a assinatura ilegível e irreconhecível. Por mais que eu olhasse não conseguia me lembrar de onde conhecia aquela assinatura. Acabei desistindo e imaginando que mais cedo ou mais tarde ele deveria dar notícias. 

Dito e feito. Mais tarde o telefone tocou e era para mim. Atendi a ligação e uma voz masculina perguntou se eu havia gostado das rosas, respondi que sim, "mas que preferia as brancas", são mais delicadas e efêmeras. Então ele se identificou dizendo se chamar Flávio e ser radiologista do hospital onde fiquei internada e onde ele passou um dia inteiro comigo na maior paciência fazendo um exame. 

Perguntei como havia conseguido os meus dados. Tive que roubar a chave do cofre para pegar o seu prontuário, mas valeu a pena. Posso ir na sua casa te conhecer e , assim te dou o resultado dos seus exames em primeira mão. Respondi que sim e marcamos um horário.

A minha mãe achou o cúmulo da falta de educação eu dizer que as minhas flores preferidas eram rosas brancas. 
Minha filha, com esse tempo, aonde ele vai conseguir rosas brancas. Não sei, mãe, ele perguntou e eu respondi.

Só si que na hora marcada, chegou o Doutor Flávio com um sorriso radiante no rosto e em seus braços três dúzias de rosas brancas compunham o mais lindo buquê que já recebi até hoje.

Suzanna Petri Martins
Enviado por Suzanna Petri Martins em 04/05/2007
Reeditado em 08/09/2007
Código do texto: T474700