Clandestinos do destino...

A luz do ambiente é fosca. No ar, cheiro de fumaça de cigarro. No ambiente, ouve-se o som de músicas brasileiras, que falam de saudade, de amores, de solidão. Às vezes é o som do forró que chama os casais para a pista de dança; o samba, que embala a todos; ou a música lenta que aproxima os casais apaixonados.

Este é o cenário de uma típica sexta-feira à noite, em mais uma das muitas casas noturnas, freqüentadas em sua maioria por imigrantes brasileiros.

Há indivíduos provenientes de diversas camadas sociais; desde aqueles que trabalharam a vida toda no “cabo da enxada”, como aqueles que viveram atrás dos livros, estudando para obter algum diploma; agora sem valor na gaveta.

As classes sociais nesta hora se fundem; não há diferença entre o culto, o analfabeto, o que foi rico ou o que foi pobre. São, em sua maioria, clandestinos procurando uma maneira de construir o próprio destino.

Há faces risonhas, pensativas, solitárias...

Há jovens solteiros, faceiros, encrenqueiros...

Há pessoas sérias, enamoradas, viciadas, perdidas, esquecidas, sofridas...

Gente casada, desquitada, amigada, enrolada...

São brasileiros do Sul, do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste.

São faces anônimas, atônitas com a realidade dura e crua, da vida na América.

São cidadãos sem nome; não carregam lenço, nem documento.

São órfãos expatriados; com fome de dignidade, não oferecida na pátria-mãe; com sede de liberdade em ir e vir, barrada na pátria-adotiva.

Vivem em repúblicas, em turmas, como nômades sem paragem; mudam de um lugar para o outro conforme o fluxo de trabalho.

São solitários; deixaram em terras brasileiras famílias, mulheres, filhos...

São solidários; sustentam em terras brasileiras famílias, mulheres, filhos...

Têm a intenção de voltar um dia, com os bolsos repletos de dólares; colhidos não em árvores, como na mente de outrora... mas arduamente.

Imigrantes que aqui chegaram com o intuito de “Fazer a América’’; e que realmente fazem a América pintando paredes, construindo desejos, aparando jardins, plantando esperanças, colhendo trabalho... rebocando sonhos.

São clandestinos do destino; que se sujeitam à vida dividida... entre o aqui e o lá.

Flórida – EUA – 2003

*copyright by Angela Bretas - crônica do livro Sonho Americano - 2nd edição

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Angela Bretas
Enviado por Angela Bretas em 05/09/2005
Código do texto: T47731