Uma explosão de alegria pelo meu ACP

Neste domingo, dia 6 de maio de 2007, uma forte e intensa emoção tomou conta de mim. Jornalista experiente, pela primeira vez eu estava na arquibancada, não como profissional, para assistir ao jogo final de um campeonato de futebol. Outras vezes eu já havia assistido a importantes finais, principalmente do Campeonato Paulista, do Campeonato Brasileiro. Desta vez e pela primeira vez, eu estava assistindo a uma final do meu querido Atlético Clube Paranavaí, o primeiro time de futebol que torci, minha paixão desde os idos de 1956 quando o futebol entrou oficialmente em minha vida.

Sou torcedor do ACP, meu primeiro time e, neste caso, o primeiro time de futebol tem a mesma importância – mal comparando, claro – com o primeiro sutiã de uma menina. É inesquecível, em tudo. É algo que, no momento em que tive contato com ele, deu-me segurança, arrebatou-me, invadiu-me, tomou conta de meus sonhos, fez-me imaginar vestir aquela camisa vermelha. Embalou as tardes ensolaradas de minha Paranavaí da infância e adolescência.

Cheguei ao estádio “Dorival de Brito”, a famosa Vila Capanema, em Curitiba, quase duas horas antes do jogo começar. Senti-me sitiado. Todos os adversários, vestindo camisas tricolores, estavam por todos os lados. Jovens, mulheres, homens, meninos. Na expressão de todos, a confiança de que o ACP seria apenas um oponente, não um adversário que pudesse efetivamente desafiar o poderio do time grande, da equipe da capital, do clube que está disputando o mais importante campeonato do continente sul-americano. O ACP era, para eles, um timinho do interior a ser vencido sem maiores dificuldades.

Quando fui procurar uma acomodação no setor social do estádio, percebi que não havia lugar por lá para eu ficar. Olhei para o lado direito e vi que, num canto, um grupo de gente vestida com camisas e adereços vermelhos, cercado por muros, alambrados, policiais fortemente armados, cães e os gritos ofensivos dos noventa e poucos por cento do restante do acanhado e mal cuidado estádio de futebol, era o espaço para eu me sentir protegido. Solicitei para um segurança deixar que eu fosse para aquele local e, depois dele relutar um pouco, principalmente depois que reclamei da falta de um lugar – que eu havia pago - para eu ficar na arquibancada junto a torcida paranista, ele aceitou e abriu o portão para eu ir ao encontro dos meus. Os torcedores do ACP como eu.

Segui em direção à escada, subi até a arquibancada, desci espremendo-me entre torcedores e o muro dos fundos da Vila Capanema e vi, que no meu lado esquerdo, o meu coração estava acompanhado com a emoção, a alegria e a certeza de outras centenas de torcedores do ACP, o vermelhinho de minha infância, meu primeiro e inesquecível time. Tenho que confessar que fiquei emocionado demais. Olhei para a arquibancada. Aquelas centenas de pessoas, todas desconhecidas para mim, tinham a cara de alguém conhecido e que, há quase 50 anos, estavam nas tardes futebolísticas no agora inexistente estádio “Natal Francisco”. Eram as mesmas pessoas, talvez na forma de filhos, netos, parentes daqueles torcedores que, muitos deles, não estavam tendo o privilégio, nem a sorte, de viver a emoção do encontro do time do coração com a real possibilidade de sair daí com o título de campeão.

Percorri, com minha pequena câmara digital, o espaço entre o primeiro degrau e o alambrado. Olhava insistentemente para o alto tentando encontrar no meio da multidão vermelha alguém com cara conhecida. Um amigo de infância, talvez. Passei algumas vezes, fui até a extremidade onde os policiais com seus cães ferozes limitavam o espaço permitido para eu avançar. Voltei. De repente, quando o jogo já havia começado, olhei para o alambrado e vi alguém com o rosto colado entre as tramas do arame. E no ouvido, um radinho. Não era mais o conhecido e falecido Natal Francisco de minha infância, mas era outro conhecido daquela época. Era o Edson Felipe, o Salomão, o Salim como o Ivo Cardoso o chamava na época do time da UPE – União Paranavaiense dos Estudantes. Ele estava atento ao jogo e o rádio não saia do ouvido. Depois, voltei-me e encontrei com alguém que tem o mesmo sangue do pioneiro Natal Francisco, um sobrinho neto dele. Era o Valdir Francisco, filho do famoso Nicola de Francisco, o inesquecível Nicolino, o torcedor atleticano que mais me emocionava na infância, principalmente quando ele gritava a plenos pulmões: “Sangue...! Saaaaaannnnnnnnnggggguuuuuueeee!” aquele grito de guerra que passou a ser, para mim, o grito da vitória.

Fiquei emocionado, logo depois, de encontrar o José Luiz Mansano, outro amigo de infância, com seus filhos – Juliano e Allan – e com a esposa a Cleuza Granado, sobrinha de outros amigos de infância. Em seguida, no meio da multidão, uma cara conhecida, de cabelos grisalhos como eu, contido entre jovens que gritavam muito nas jogadas do time do ACP. O José Luiz apontou e disse: Aquele é o Winche, o Winchinho! E era mesmo o João Winche Filho, que mora em Curitiba desde o final dos anos 70 e que foi meu contemporâneo de infância e juventude na Paranavaí que, naquele instante, eu recuperava no coração e na memória.

Logo após, fui abraçado pelo Joãozinho, jornalista do Diário do Noroeste, com o qual tive o prazer de conviver nos idos de 98. Em seguida, outro abraço me foi dado pelo Pita, outro profissional do Diário do Noroeste. Todos fanáticos torcedores do ACP, meus colegas de profissão.

A torcida vermelha, mesmo acuada naquele espaço, cercada por esperança, medo, o muro opressor, o alambrado desafiador, os policiais mal-encarados, os cães ferozes, as vaias e ofensas dos torcedores do Paraná Clube, tinha uma ampliação do espaço, nos gritos de incentivo aos jogadores que estavam em campo e, logo após, na incontida comemoração do título de Campeão Paranaense de Futebol de 2007 que chegou, após o empate sem gols. Então, eu que estava observando e fazendo algumas fotos da torcida, ergui os braços e gritei. Meu grito foi forte, tenho certeza, pois tinha a dimensão do grito daquele menino que se viu contagiado pelo primeiro gol do ACP, lá nos idos de 1956 e que, agora, 51 depois, tinha o poder e o privilégio de gritar: É campeão! É campeão, o ACP é campeão!

Rogério Viana
Enviado por Rogério Viana em 08/05/2007
Reeditado em 08/05/2007
Código do texto: T479216