Súcubo

Não existe entusiasmo no mundo para mim. Há quantos meses não tenho um dia agradável? Todos os dias são igualmente miseráveis, intercalados de episódios desprezíveis, leituras imbecis, conversas idiotas, relações vazias, o grande monturo de estupidez que a minha vida reuniu em torno a si. Sinto-me cercado pela falta de sentido, que me bombardeia da Coréia, Guiné-Bissau, Tasmânia, Patagônia, Escandinávia, Madagáscar, Fiji, Gronelândia, o universo inteiro. Ontem tive sonhos pornográficos sufocantes. A falta de amor. Erotização. Súcubo.

Sim, um súcubo. Senti-o, pude acompanha-lo formando-se em minha mente adormecida. O fato de relaxar na masturbação talvez o tenha fortalecido. Há que esvaziar os testículos decentemente, regularmente. As carícias do demônio, sua materialização envolvente e por fim seu estado de solidez anímica, onírica, plasmado diante de mim, em meus braços, aconchegado à minha carne. Assim ocorria aos monges medievais, quando de suas carnais tentações? Assediados em seus catres por essas potências sexuais primitivas, ninfas do inferno da carne, ordenhando-os até o êxtase e sublimando seu sêmen em energia volátil para a manutenção de suas profanas existências?

O que sei é que não me agradou aquele contato incompletamente ilusório, parcialmente físico e, contudo, alucinatório. Fiz força para sair daquilo, e o súcubo tentou de muitas formas, tive inclusive a sensação de mãos sobre meus genitais, minhas coxas, toda a virilha e o púbis. Mas não me entreguei. Enoja-me a ideia de uma entidade espiritual obcecada pelo sexo. Enoja-me tal coisa num ser de carne e osso também – mas, em um ser de outro plano, por Deus, como entender? Como aceitar? O que foi feito a semelhantes criaturas, para que se degradassem a tal ponto? Ao que tudo indica, há algo de muito podre por trás da matéria.

Como se a podridão da própria matéria já não fosse o bastante.

Damnus Vobiscum
Enviado por Damnus Vobiscum em 23/05/2014
Reeditado em 23/05/2014
Código do texto: T4816681
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.