COTOVELANDO

Sabe aquele dia que nada dá certo? Pois é, foi hoje. Eu pouco saio do meu sitio, não gosto de correria, moda e televisão, essas coisas... Mas, gosto de pensar e também do não pensar; às vezes, testo algumas idéias de alguns pensadores e até de outros que nem pensam tanto assim, por isso, deu no que deu hoje: resolvi experimentar a idéia que diz que “para aquele não sabe para onde ir, qualquer vento serve” e sai a esmo. De repente, gente! Muita gente. Um bando de gente, ou é tropa que se diz?

- Multidão...

- Ah, sim! Uma multidão!

E eu me deixei levar pela massa: qualquer direção serve! À medida que o tempo passava, mais para dentro da cidade a multidão seguia e engrossava até embretar-se num ponto sem saída e eu lá na frente!

Não havia procurado entender o porquê daquilo, porque não era o ponto da minha experiência, mas, dado às circunstâncias comecei a preocupar-me com a minha integridade física: cotoveladas, empurrões e, se não me cuido, poderia acabar pisoteado. De repente, outra pequena multidão vindo de encontro a nossa: homens de preto, corpulentos e outros tantos à paisana, mas, muito atarantados, pareciam querer nos comer com os olhos...

Quando me dei por conta, o círculo se abria e, bem à minha frente, um homem miúdo, todo de branco, com um sorriso lacrado nos lábios, estendia as suas mãos na minha direção cumprimentando-me e muita gente me empurrando para cumprimentá-lo também.

Tratei de sair de fininho quando um jovem, bem ao meu lado, começou gritar, como que extasiado:

- Ele me tocou! Ele me tocou! Eu vou para o céu! Eu vou direto para o céu!

- Xô égua!

Pensei. Metendo cotovelada em todo o mundo, fiz o caminho contrário: eu no céu? Meu Deus, no que fui me meter por conta de não saber para onde ir?

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 13/05/2007
Código do texto: T485181
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