Tragédia?

Gosto de futebol. E também de vôlei, de basquete, de handebol e de tantos outros esportes. Para mim, quanto mais coletivo, melhor. Tenho lá minhas restrições (é uma deficiência minha) a alguns individuais, que guardam semelhança com briga de rua, mas que, para muitos, é tido como esporte, e da melhor qualidade. Tudo bem! É de se respeitar também aqueles que gostam dessas modalidades.

O fato é que eu vibro muito com as partidas de vôlei, basquete, e, claro, com as de futebol. E quando surge a copa do mundo então... Só de poder me livrar por um mês das peladas do campeonato brasileiro, já é grande coisa. Mas essa copa, a de 2014, tinha um significado especial: meus netos mais velhos, ambos de 10 anos, assistiriam conscientemente a sua primeira copa do mundo e, ainda mais, em seu país. Até para uma das chamadas Arenas, um deles foi. E tome álbum de figurinhas, o que me fez lembrar muito a infância, com a alegria de encontrar alguma foto dos craques mais conhecidos da copa, vibrando com eles como se criança também fosse.

E chegamos aos jogos. A nossa seleção, já na fase de grupos, deu pra ver que não era lá grande coisa. Mesmo assim a torcida era grande e a esperança de que o time melhorasse na partida seguinte, era maior ainda. Tudo pelos netos!

Enfim, o mata-mata! Perdeu, cai fora. Aos trancos e barrancos vamos avançando. Bola na trave aqui, pênalti defendido ali, e vamos pra frente. Mas Neymar fica no meio do caminho. Por outras razões, Tiago Silva também. E agora? Nada de pessimismo. Somos brasileiros e não desistimos nunca, já disseram isso muito tempo atrás. E que venha a Alemanha... Ela veio. E foi uma tratorada. E pulamos do hexa, que poderia ter sido, para o hepta dos 7x1!

É claro que eu fiquei sentido, macambúzio, só pensando no que seria dos meus netos, tão jovens e esperançosos na seleção brasileira. Não costumo assistir aos jogos com eles, pois segundo meus filhos, tenho “a boca suja” e frequentemente escapa um pqp, diante de algum deslize dos nossos craques. E o avô não deve xingar na frente dos netos, dizem eles.

Acabou o jogo e só pensava neles, como seria a reação diante da DERROTA (assim mesmo, com maiúsculas) acachapante. Aí pensei: é melhor deixar pra conversar com eles amanhã com os ânimos mais esfriados. E assim fiz. Liguei logo cedo, e perguntei: “-E aí Pedro, como você está se sentindo com aquela derrota de ontem da seleção?”. Quer saber a resposta dele? “-Normal. É só um jogo vô, e o melhor time ganhou”. Simples assim...

E eu, que no finalzinho da partida ainda vi Galvão Bueno mostrando a imagem de um garotinho chorando com a derrota e perguntando “o que será desse garotinho, quando ele vai esquecer essa tragédia?”, fiquei matutando: - Tragédia mesmo Galvão, é a queda de um viaduto em construção, que deveria ficar como um dos legados da copa, e acabou tirando a vida de algumas pessoas. Tragédia mesmo, Galvão, é a miséria, o analfabetismo e a insegurança. O resto, como disse meu neto, é só um jogo e eles foram superiores a nós.

Fleal
Enviado por Fleal em 09/07/2014
Código do texto: T4875732
Classificação de conteúdo: seguro