Saddam Russein e o Jardim.

Ellis disse que teria de ir embora. Seu irmão estava morrendo. Era certo, não havia mais jeito, a morte estava selada. Queria acompanhar o irmão nos últimos momentos de vida. Então o homem que estava sob seus cuidados lhe olhou com candura, abraçou-o e falou que ele seria um irmão para Ellis.

Durante um ano e meio aquele homem se revelara outro. Não era nada daquilo que o Sargento Ellis esperava. Ellis viu o que ninguém mais pôde ver. O homem escrevia poesias e quando pôde caminhar por um jardim, alimentava os pássaros com as cascas de pão que guardava. Regava os canteiros com o mesmo zelo e apreço de quando labutava na sua juventude como camponês – Ele disse certa vez que nunca esquecera de onde viera. Compartilhava, também com o Sargento, de saudosas memórias de quando os seus filhos eram pequenos, lembrava de quando contava histórias para suas filhas antes de dormir. Apesar de saber que seus dias estavam contados e que ali em Campo Cooper era um prisioneiro, não reclamava de nada, exceto quando havia legítimas razões para isso. Teve um momento em que ele reclamou, abstendo-se de comer, pois o alimento lhe era servido por debaixo da porta. Quando eles passaram a abrir a porta para levar o alimento, ele voltou a comer. “Ele se recusava a ser alimentado como um leão”, disse Ellis.

Era trabalho do Sargento enfermeiro Robert Ellis mantê-lo vivo e com saúde, para que eles pudessem matá-lo num momento posterior.

Foi em entrevista dada ao jornal americano St. Louis Post Dispatch, que sargento Robert Ellis, de 56 anos, deu detalhes sobre os últimos meses de vida do ex-presidente iraquiano na prisão – que era chamado de “Victor” entre os militares no campo - situada na região norte da capital do Iraque.

Quem adivinharia que o prisioneiro da prisão de Abu Ghraib, em Campo Crooper, tratava-se de Saddam Russein? O homem acusado de genocídio e notório por uma atrocidade tamanha. Pois era o mesmo senhor afetuoso e jardineiro, que respondera à pergunta do seu interlocutor e colaborador sobre a eficácia das armas químicas, quando ele com membros do partido Baath tramavam a operação Anfal. "Senhor, isso extermina milhares?", perguntou o colaborador do partido. "Sim, extermina milhares e os impede de comer ou beber, e eles terão de desocupar suas casas sem levar nada com eles, até que possamos finalmente eliminá-los", respondeu Saddam.

A despeito disso tudo, que não é pouco, é inevitável que não conjecturemos sobre a natureza humana. E parece que o homem é potencialmente apto a ser um genocida insensível que espalha terror e morte pelo mundo ou ser um jardineiro de mãos sensíveis que pode colorir e perfumar o ambiente a seu redor com generosas flores. Parece que há de fato uma maçã dourada que parece apetecível e uma serpente que se esforça em encantar o homem a pegá-la. O Saddam a pegou, o Bush a pegou e quantos loucos ainda a irão pegar? Se fosse diferente teríamos mais um jardim florido em Bagdá e talvez, um também no Texas.

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Joel Rogerio
Enviado por Joel Rogerio em 18/05/2007
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