Reino de Águas Claras

Reino das Águas Claras, terra de povos tupiniquins, local onde teoria e pratica não se harmonizam. Foi neste reino que tudo aconteceu. No reino tupiniquim, muito se fala em igualdade, fraternidade, educação, progresso. Muito se fala; muito se fala, e se fala.

Educação, fonte de progresso e de um futuro promissor. Mas a educação do faz de conta se diferencia da real. Educação é uma empresa que vai à contra mão das grandes empresas. Vejamos:

Empresas visam lucro. Para alcançar lucro, forma e valoriza seu corpo profissional e todos almejam trabalhar na empresa, pois o crescimento de um é o de todos. Estas empresas entendem como investimento e não como despesas ou prejuízos os investimentos realizados para o bem estar de seus profissionais. Entendem que isto se volta em forma de produtividade e, por conseguinte, lucros. Estas empresas promovem planos de cargos e salários; alimentação, transporte, ginástica e oficinas laborais, entre outras.

Na empresa educação, o que seria investimento é visto como despesa, pois o lucro esperado não vem em forma de dinheiro. Não entendem, porem, os representantes do imenso reino que a educação trabalha com o maior de todos os patrimônios e que os lucros esperados encontram-se num ATIVO, a se realizar de médio a longo prazo. Trabalha na formação do patrimônio intelectual e cultural daqueles que estarão a frente das mais importantes funções do reino. Formação ética, cultural, intelectual. É desta empresa que sairão empresários, engenheiros, médicos, professores e governantes do imenso reino.

Mesmo assim, investir pra que?

Nutricionistas defendem que profissionais desta empresa não precisam se alimentar ou que levem marmitas ou paguem pelo que consomem. Não interessa se os profissionais percorrem 80 km diários, se acordam as 4:30 e se não tem tempo de preparar suas alimentações. Vão porque querem e ganham o suficiente. Não se pode ter despesas desnecessárias ( ou seria investimento, como nas demais empresas que investem em seus funcionários?) A alegação é que alimentação é para o futuro do reino, aqueles que serão os próximos governantes, médicos, etc. Mas e a sobra? Que isto de sobra? Viram adubos ou engordam porcos.

Isto me faz recordar a parábola em que o Mestre maior, em conversa com uma samaritana, diz a ela (quando esta lhe pede um pedaço de pão): não se pode tirar da boca dos filhos e lançar aos cães. Sabiamente ela responde: mas cabe a estes se alimentar das migalhas que caem da mesa.

Desculpem-me a comparação, pois nem isto se aplica na empresa.

Enquanto isto, os felizes funcionários vão cumprindo sua missão na formação do ativo a médio ou longo prazo da empresa: formação de cidadãos preparados para o futuro (se longínquo ou próximo, impossível de dizer).

E daí se precisa acordar as 4:30, enfrentar 80 km e, se quiser se alimentar, que levem marmita, paguem quinzão , tomem água ou se alimentem da poeira do caminho. Na empresa educação, na contramão das demais empresas, tudo isto é secundário.

Assim segue a empresa pelo reino de Águas Claras.

Por coincidência, a exemplo do que acontece no meu país, democrático por natureza, também neste reino, localizado no Oriente Próximo, 2014 é um ano eleitoral e em breve começam os teatros eleitorais gratuitos, onde educação, como em todos os anos anteriores, é uma das bandeiras da tão mentirosa campanha daqueles que tentam nos comover com sofismos e discursos vazios.

Pelo menos algo de bom: oportunidade de assistirmos peças teatrais mal elaboradas, mas que nos fazem rir um pouco e esquecer os problemas. Pelo menos estas são gratuitas.

( Apenas uma crônica. Qualquer semelhança com o real é mera coincidência. Será?)

BJ Duarte
Enviado por BJ Duarte em 14/08/2014
Código do texto: T4922821
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