Professor integral

Admiro as ideias de Carl Rogers (1902-1987). Precursor da Psicologia Humanista e criador da linha teórica conhecida como Abordagem Centrada na Pessoa constitui-se em uma das minhas “tatuagens sociológicas”. As características que ele atribui ao professor, como autenticidade, apreço ao aprendiz, e compreensão empática, servem de modelo em minha vida docente. Por “compreensão empática” ele entende a habilidade de colocar-se na “pele do aluno”, permitindo que este se sinta compreendido por alguém sem que o esteja julgando. Já o “apreço ao aprendiz” está na consideração do outro como um ser humano imperfeito, mas dotado de sentimentos e potencialidades. Por fim vem a “autenticidade”. Segundo Rogers é ser uma pessoa real, apresentando-se, tal como é, no contato com o aluno. Nada de ostentação, de aparência ou fachada mostrando-se ao pupilo como alguém que desempenha uma função, com a adoção de um papel estereotipado de professor, o qual é abandonado, como se troca de roupa, ao final da aula. Para ele não há um tempo limitado, restrito, para ser professor. Este ofício é para ser exercido em tempo integral. E não apenas pelo professor formal, de carteirinha, mas por todos aqueles que se encontram em situações que exigem o exercício do chapéu de professor. E situações assim, que nos levam a exercer o ofício docente, mesmo incidentalmente, sempre surgem.

Vamos a um “por exemplo” com questões atinentes à nossa língua portuguesa. Quantas vezes não nos defrontamos com cenas em que as pessoas usam determinadas palavras de forma contrária ao que ensinam as gramáticas? Chegam a doer nos ouvidos. Mas qual tem sido a nossa forma de agir para ajudar o outro a não cometer mais aquele deslize? A “compreensão empática” Rogeriana em muito ajuda nesses momentos, uma vez que colocar-se no lugar do outro se constitui numa boa forma de ensino e aprendizagem. Limitarei o meu exemplo a duas palavras, “rubrica” e “pudico”, que costumam ter a sua acentuação tônica enfatizada de forma incorreta, a tal ponto que o certo até parece o errado. Ambas são paroxítonas, com a sílaba forte ocorrendo na penúltima sílaba, mas comumente são pronunciadas como se proparoxítonas fossem. Neste caso a sílaba forte estaria na antepenúltima sílaba e, pela regra, teria que ser acentuada como costuma acontecer com todas as palavras com essa tonicidade. Quantos não ouvem o “rúbrica” (sic) ou o “púdico” (sic) e fingem que não escutaram nada, sem ter a amorosidade devida para ajudar o falante com a orientação correta? Ser Rogeriano é ajudar o outro naquela dificuldade, mesmo não sendo um professor formal, em sala de aula, e que o assunto da conversa ou estudo nem seja, também, a língua portuguesa. Agindo assim, corrigindo a pessoa, ajuda-a com subsídios para que ela cresça em seu linguajar.

A propósito, a palavra subsídio também é muito usada incorretamente. No modo certo o “S” é para ser pronunciado com som de “esse” mesmo, e não com o som de “z” como costumeiramente se faz. E ponto final!

Fleal
Enviado por Fleal em 15/08/2014
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