A lenda do Uakti (como ouvi contar)

Era uma vez um índio que nasceu numa tribo de nome Tukano. A tribo dos índios Tukano vivia numa aldeia às margens do rio Tiquiê, lá no Amazonas. Isso já faz muito tempo, muitas luas. Não se sabe se foi por causa do curso das águas. Você sabe. Águas que brotam da terra passam por lugares vários e se misturam com águas que vêm de outras terras e acabam caindo no mar. Sabe-se que o rio Tiquiê se encontra com o rio Negro, que se junta com o Amazonas, um mar de águas, que deságua no oceano Atlântico. Pode ser que tal caso tenha viajado pelas águas que desaguaram no mar ou pelas que se evaporaram e formaram as chuvas e que tenha chegado a nossos dias, quem sabe, mais cheia de pontos do que quando de lá saiu, quem sabe, com uma ajudinha do vento. O que sei é que soube dessa história. Bem, seria uma lenda. Pode ser, pois, narra feitos de um indivíduo cujo corpo emitia divinos, sublimes, fantásticos, extraordinários efeitos sonoros ao ser tocado pelo vento.

Veja como começou a história do índio de corpo furado. Conta-se que, após esperar por 10 luas, uma índia da tribo Tukano deu à luz um indiozinho bem esquisito, com buracos por todo o corpo, que foi chamado de Uakti. Essa criança com furos por todo o corpo acabou crescendo sem amigos e tornou-se um ser solitário, que passava os dias correndo pelas trilhas da enorme floresta amazônica. Quando Uakti virou homem grande, passou a acontecer-lhe uma coisa estranha. Ao topar com o vento que soprava pelos caminhos da floresta, esse passava pelos buracos do seu corpo e produzia sons nunca antes ouvidos pelas gentes de sua tribo.

As mulheres diziam que os sons emitidos pela passagem do vento pelos buracos do corpo de Uakti eram melodiosos, incomuns, encantadores. Os homens, ah, os homens! Os homens, percebendo que as mulheres se derretiam, ficavam arrebatadas por causa do som do vento que atravessava o corpo de Uakti, passaram a espalhar que aqueles sons eram medonhos, tristes, sombrios, mal-assombrados, assustadores.

Assim, por não suportarem mais o encanto que Uakti despertava nas mulheres da tribo Tukano, os homens da aldeia decidiram que deviam fazê-lo sumir. Então, por luas e luas, vento sim, vento não, ele foi caçado por homens munidos de arco e flecha, acho. E quando foi encontrado, os homens o mataram, sem dó e enterraram seu corpo na mata fechada.

Acontece que, alguns dias depois, no lugar onde o corpo de Uakti foi enterrado, nasceram três altas palmeiras. Os homens? Ah, os homens! Os homens da tribo Tukano passaram a fazer suas flautas, seus instrumentos de som que usavam nos rituais com pedaços dos galhos daquelas palmeiras que nasceram por cima da terra que cobria o corpo de Uakti.

Imagine! Eles acreditavam que os instrumentos de sopro que faziam com os ramos daquelas palmeiras produziam sons especiais. Achavam eles que eram sons semelhantes aos dos sons emitidos pelo vento quando passava pelos buracos do corpo de Uakti. Assim, quando tocassem suas flautas, poderiam conquistar as mais belas mulheres da aldeia........

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O grupo musical UAKTI (uma quase lenda)

UAKTI é um grupo musical que se intitula “Oficina Instrumental”. Foi formado em 1978, em Belo Horizonte e tirou seu nome da lenda indígena de Uakti. Caracteriza-se pelo uso de instrumentação original e específica. Seus componentes tocam instrumentos convencionais, como violões, violoncelos. Porém, a maioria dos instrumentos que usam são construídos ou adaptados por eles mesmos, de materiais como tubos de PVC, sinos de madeira, caldeirões, vidro, pedra, cabaça, sementes e até mesmo água.

Como “santo de casa” quase nunca faz milagres, o Grupo UAKTI tornou-se muito famoso no mundo inteiro, mais do que no Brasil. Isso devido a originalidade de seus instrumentos e mais ainda por causa dos divinos, sublimes, fantásticos, extraordinários efeitos sonoros que eles emitem ao serem tocados pelos seus músicos criadores, Marco Antônio Guimarães (o grande fazedor de instrumentos), Paulo Sérgio dos Santos, Artur Andrés Ribeiro e Décio de Souza.

A discografia do grupo UAKTI é composta de diversos trabalhos gravados em vinil e CD: “Uakti – Oficina Instrumental”; “Uakti 2”; “Tudo e Todas as coisas”; “Uakti Coletânea”; “Mapa”; “I Ching”; “21”; “Trilobyte”; “Águas da Amazônia”; “Mulungu do Cerrado”. O grupo também fez gravações de CDs com Maria Betânia, Milton Nascimento, Zélia Ducan e já deslumbrou o mundo da dança com suas trilhas sonoras em alguns espetáculos do “Grupo Corpo”, um grupo de balé, também de Belo Horizonte, que espalha beleza e harmonia por onde passa. O primeiro DVD do UAKTI foi lançado nesse final de semana, com apresentações em Belo Horizonte que encantaram o público presente.

Terezinha Pereira
Enviado por Terezinha Pereira em 18/05/2007
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