A Extinção dos Dinossauros (S.O.S. Rádio)

A Extinção dos Dinossauros

Triste o período pelo que passa o rádio no Espírito Santo e no Brasil. Estamos assistindo, de braços cruzados, à extinção do que eu denomino de "Era dos Dinossauros" do rádio.

Sabemos que os períodos geológicos radiofônicos, de tempos em tempos, provocam a inevitabilidade das extinções em massa, o mesmo que se deu com os dinossauros há 65 milhões de anos, no fim do Cretáceo.

O que nos deixa apreensivos é a perspectiva de que esses eventos catastróficos não são culpa ou negligência dos sujeitos e agentes dessa história - nós mesmos "os dinossauros do rádio".

Sem querer associar a palavra "dinossauro" ao que muitos poderiam ligar à coisa antiga, museu, jurássica ou perdida no tempo, tento passar a idéia de que esses "monstros" do rádio não estariam sendo extintos senão pela força oculta da natureza das ações equivocadas dos empresários de rádio no Espírito Santo, especialmente na Capital, Vitória, de onde sempre saíram os maiores nomes do veículo desde a criação da primeira emissora nos anos 30.

O que vemos hoje é a ascensão de uma ordem de novos "seres do rádio", que eu poderia comparar facilmente aos mamíferos, que depois da Era dos Dinossauros, tomaram facilmente conta do nosso planeta rádio, por absoluta falta de concorrência profissional.

O fato é que os mamíferos jamais teriam chance contra os dinossauros na luta pela supremacia, por vários motivos óbvios - tamanho, ferocidade, adaptabilidade e profissionalismo, além da experiência acumulada ao longo desses milhões de anos em que estiveram dominando as ondas do rádio em nosso estado.

O que está acontecendo mesmo é a extinção involuntária dos grandes profissionais do rádio no Espírito Santo e no Brasil, em função da falta de capacidade e competência técnica de gerentes, diretores e proprietários de emissoras, que ao longo dos últimos 20 ou 30 anos, justificaram essa anomalia como sendo reciclagem natural, apostando tudo na tecnologia, nas demissões, nessa reengenharia absurda, trocando pessoas por computadores. Você acredita mesmo que isso pode dar certo?

As pessoas estão em busca de alguém que lhes diga algo e não de computadores, programas gravados e esquemas automatizados, absolutamente frios e vazios de conteúdo como ouvimos hoje, todos os dias e em quase todas as emissoras de rádio. Onde está o profissional de rádio de antes, inteligente, que nos fazia pensar e emocionar?

Na verdade o mercado de locutores não colocou nada novo no ar desde a última geração, no começo dos anos 80 e na qual me incluo, junto com Kazinho, Emerson Miguel e Volney Rocha, apenas citando alguns nomes.

Nem mesmo as faculdades, com seus cursos de radialismo, serão páreo para o mercado predatório e seus baixos salários, o que fará inevitavelmente que alunos interessados em rádio simplesmente mudem de opção depois que conhecerem como realmente funciona o veículo no estado. O que vemos, ou melhor, ouvimos hoje nas rádios de Vitória, é uma horda de profissionais de nível questionável, engessados dentro de esquemas nada criativos, colocando novamente, toda uma raça em perigo de extinção.

Talvez seja a hora dos verdadeiros profissionais do rádio se levantarem e buscarem seus lugares dentro da história.

O que aconteceu com os nomes dos anos 40, 50...? Só temos alguns exemplos vivos como Jairo Maia e alguns poucos - e os outros? E a nossa própria história? Nossa sobrevivência como espécie depende disso.

Não se faz um bom rádio sem os profissionais de antes - como aprender se não há ontem, se não há professores ou avós? Quando comecei minha carreira em 1982, já não havia muitas fontes de aprendizado e pesquisa ou em quem nos espelhar, mesmo assim contra as todas as probabilidades tive a oportunidade de conviver com alguns dos bons nomes do nosso amado veículo, como Luis Carlos Peixoto por exemplo.

Acho que não basta uma expedição paleontológica aos confins do rádio capixaba pra desenterrar o que tivemos e ainda temos de bom em nosso meio. É preciso que haja mais comprometimento e talvez até uma ressurreição, dada a falta de opções nesse mercado saturado de currículos inchados e cabeças que não pensam, só sustentam chapéus.

Permeando a audiência das emissoras de rádio nesse século de aniversário do veículo, sempre encontramos a vontade de ouvir uma voz que nos prenda a atenção, guie ou conforte ao longo do dia e mesmo à noite - o speaker (o locutor). Muito mais que um profissional, o amigo de todas as horas, que nos acompanha todos os dias, alguém que sabe o que diz e que sabe por que está ali - essa história ninguém jamais mudará, a relação entre ouvintes e locutores de rádio.

No final das contas perdem os profissionais da área, os donos de emissoras e na outra ponta nós mesmos como ouvintes de rádio que sempre fomos e seremos pra toda a vida.

Como sempre me coloco à disposição para debater, discutir e até mesmo brigar se necessário, pra ver o rádio renascer das cinzas como uma Fênix Pterossauro, assumindo de uma vez por todas o seu lugar por direito.

de Fábio Pirajá

Fábio Pirajá
Enviado por Fábio Pirajá em 20/05/2007
Reeditado em 18/10/2007
Código do texto: T493943