Meu primeiro pôr-do-sol

     A primeira vez que assisti ao pôr-do-sol eu tinha 8 anos.
É claro que eu já tinha visto o sol ir embora muitas vezes, até porque ele faz isso todos os dias, mas até então nunca havia prestado atenção...

     Eu e meu pai tínhamos ido a um sítio perto da cidade. Ali no sítio você podia comprar pamonha, bolo de fubá, licores, doces caseiros e outras coisas mais.
     Separamos os doces que mamãe havia encomendado, colocamos com cuidado no banco de trás do fusca e estávamos voltando para casa quando meu pai, de repente, encostou na beira da estradinha e parou o carro. Passou o braço pelo meio dos bancos do fusca e pegou dois pés-de-moleque. Depois, saiu devagar e fez um sinal para eu fazer o mesmo.
    
     Sentamos num barranco e ficamos mordiscando os doces e olhando o sol se pôr. O sol todo avermelhado num céu azul, azul, azulzinho.

     Ficamos conversando, e conversando ele brincou de contar quanto tempo demorava para o sol se esconder mais um pouquinho, quantas cores eu podia ver olhando para o horizonte... Como as sombras da montanha, das árvores e das nuvens faziam desenhos no campo, como a lua cheia ia chegando sorrateira enquanto o brilho do sol ia embora.
     
     Aquele dia eu aprendi que ver é diferente de olhar. Olhar é só abrir os olhos... Ver é abrir os olhos, a mente e o coração! É perceber a maravilha que são as coisas, muitas vezes simples e cotidianas, que acontecem à nossa volta...

     Não sei se de saudade do meu pai, mas nunca mais me esqueci da primeira vez que assisti ao pôr-do-sol.