Leva ou não leva?

Pela quarta vez consecutiva, Rodrigo foi participar da Conferência Internacional de Cinema em Avanca, localidade pertencente ao município de Estarreja, norte de Portugal. Depois de passar alguns dias no Algarve e no Alentejo, encontrando com seus amigos de longa data, chegou a hora de seguir para Avanca.

Em Lisboa, Rodrigo comprou o bilhete para a viagem de trem e foi informado de que deveria descer na estação de Aveiro, pois em Avanca, 26 km depois, o trem não fazia escala. E a próxima parada era na cidade de Espinho, 33 km adiante e ele teria que pegar outro trem para voltar à Avanca. Já bem acomodado em sua poltrona, Rodrigo colocou os fones de ouvido e ficou a ouvir músicas para enfrentar a viagem de três horas. Vieram- lhe à lembrança acontecimentos do ano anterior, quando esteve na cidade de Estarreja com sua amiga portuguesa, Margarida. Numa queda ela quebrou o pulso e precisou engessar boa parte da mão até à região do cotovelo. Incomodada com a coceira provocada pelo gesso, Margarida pediu ao Rodrigo que despejasse um pouco de álcool em seu braço. E alguns minutos depois, distraidamente, acendeu um cigarro. Pronto! Seu braço ficou em chamas em poucos segundos. Mesmo com a tentativa de apagar as chamas com rapidez, o braço ficou com fortes queimaduras. Rodrigo chamou um taxi e acompanhou a amiga ao hospital. Enquanto Margarida era atendida pelo médico plantonista, Rodrigo entabulou conversas com Carminda, a taxista. Esta contou que morava em Estarreja e, juntamente com o marido, ganhava a vida nesta profissão. Com a música suave e estas recordações, ele acabou adormecendo. Quando acordou, o trem acabara de sair de Aveiro. Assustado, procurou o cobrador e este o orientou a tomar um trem suburbano em Espinho que o levasse de volta à Avanca. Tudo deu certo e, chegando à estação de Avanca, saiu em direção ao local da Conferência.

Passou por ele uma senhora pela calçada, encarou-o e lhe dirigiu a palavra:

— Olá, você de novo por cá? E como vai a tua amiga? Sarou do braço?

Depois de um ano fora reconhecido pela taxista Carminda.

— Entre no carro. Eu o levo e não te levo nada!

Rodrigo sorriu achando interessante o jogo de palavras. Mesmo falando a nossa língua portuguesa, certas expressões usadas ganham um sentido pitoresco quando empregadas em culturas diferentes, podendo causar estranheza e graça em nossos ouvidos. Ela o levaria, mas não iria cobrar pela corrida. Feliz coincidência. Obrigada, Carminda!

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 12/10/2014
Reeditado em 13/10/2014
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