NADA DE NOVO SOB O SOL

Uma sensação de deslocamento achega-se à sombra daqueles que se incomodam com tantos exemplos de condutas contrárias às vozes que os disciplinaram desde a infância.

Nossa paciência se impacientou e nada aconteceu.

Assistimos ao achincalhamento da honra nos sofás das salas a um nível de passividade que encoraja os desertores da moral.

Sinceramente, às vezes me pergunto o que dizer a meu filho de 8 anos. Como explicar que defender bons princípios é obrigação inegociável, se o alto escalão deste governo ensina, por exemplos vários e sobejamente frequentes, que os ensinamentos de seu seu pai foram superados? Ou pelo menos não coadunam com a essa atmosfera respirada.

Como defender que o respeito à dignidade humana e ao direito do próximo são costumes que devam ser internalizados e praticados como forma de tornar as relações humanas construtivas e não fazer desse meu filho uma vítima potencial se esse meu conselho for apreendido?

Como se portar numa sociedade em que ser forte significa amordaçar o senso de justiça que cultuamos e demonstrar frieza suficiente para olhar na face do colega ou do irmão e não se apiedar com o golpe recebido por ele e desferido por nós.

Gostaria muito de ter exagerado nessa modesta reflexão, nascida em instantes insones, mas infelizmente este é um instantâneo da face da humanidade, em cujo momento tenho o infortúnio de me fazer presente em seu tempo. Aliás, num de seus piores tempos.

A sensação que se tem é que não aprendemos nada com a história, com os grandes filósofos ou com aqueles que se elevaram, como Cristo, Ghandi ou Buda, ante a média condição mesquinha que é a característica descritiva da nossa raça, incompletude essa que deveria ser uma obsessão superá-la e a razão primeira de nossas ambições.

Esses contravalores nos cansam porque agridem uma educação forjada sob as bênçãos de uma plena consciência histórica de nossa presença neste instalo de espaço-tempo.

Mas essas letras já nascem mortas, pelo menos no que se refere à presença da seiva de esperança em encontrar uma ressonância, considerando a esterilidade do solo que recebe esta semente - generosamente putrefato moral e eticamente,

O caso Petrobrás sela em definitivo que o governo já transpôs os limite da governabilidade. Escreve esse partido o mais lamentável episódio de nepotismo e clientelismo nas páginas da nossa história. "O rei está nu" e ainda muitos insistem em elogiar o quanto são belas as cores de sua indumentária. A história se repete.

Tudo é cíclico e previsível, inclusive o medo e sua fiel escudeira - a covardia. Enquanto isso, num exercício de faz-de-conta, ignoramos a insurreição do nosso bom-senso, que nos pergunta insistentemente o porquê da nossa Presidente ainda permitir que a D. Graça Foster permaneça à frente da Petrobras. Fosse em terras nipônicas, por muitos menos, já se teria assistido o honroso gesto do "harakiri" como forma de remissão pela vexatória conduta de atentado à honra nacional.

O medo é o combustível da inércia.

É o refúgio do corrupto e a certeza da impunidade.

O mesmo medo que paralisa.

Que nos sinaliza que o nosso emprego está em xeque.

Que existem compromissos no final do mês, com a escola do filho, com o plano de saúde da família...

Que devemos nos calar porque tudo passa.

Porque acima de nós está um Juiz que assiste a tudo e que julgará ao seu tempo.

O medo que nos cala diante de uma possível reação daquele parlamentar que pode nos dificultar de algum modo nossos propósitos.

O medo daquela reação de perseguição de um fisco ativado pela cólera do Sistema atingido.

O medo por aquele estigma que nos será impingido por termos polemizado em demasia.

O medo de nos fazer lembrar que somos cidadãos e credores eternos do respeito aos nosso direitos - aqueles que a cidadania nos confere. Aqueles que a Constituição estatuiu mas que aceitamos com tranquilidade seu caracter ficcional.

O medo pelo fim daquela cesta que basicamente amordaça o cérebro e a consciência, pelo estômago.

Há também o medo de termos a consciência de quem verdadeiramente somos e do que potencialmente temos a capacidade uma vez unidos.

O medo nos afasta da percepção de que somos elos de uma corrente que pode ser soldada pela liga de um objetivo comum.

Também somos vítimas do medo por termos medo.

Assim como do medo pela chegada de um dia no qual perdermos esse medo.

Enquanto isso, nossa indignação assiste pela janela aqueles que não temem a força contida por nosso medo, que é coletivo.

O medo coletivo é tão devastador quanto a fúria coletiva, pois ambos desposam a mesma potência que confere robusteza aos seus propósitos: a fúria se fortalece em sua condição e segundo a sua natureza e o medo coletivo igualmente, através de um coral numeroso que desencoraja o despertar.

Tudo é cíclico e previsível.

A ideia de viver a liberdade é contida pelo medo de não se querer acordar com a responsabilidade de usufruir dela.

A intimidade do convívio com limites da prisão nutre o medo de um dia não se ter a habilidade ou a coragem de caminhar num plano guiado pela liberdade.

Esse medo tem seu preço e pagamos caro por ele. O lamentável e que muitas vezes, chegamos mesmo a sentir um mórbido e inconsciente prazer em sermos vítimas dele, embora nunca admitindo.

Acontece que os poderosos e os corruptos aprenderam essa lição e fazem uso cotidianamente dela.

O medo oxigenou a inquisição por muito tempo. Deu a Hittler as condições para o exercício de sua insanidade e contribuiu para que hoje, 1% dos mais ricos detenham metade da riqueza mundial, segundo o The Guardian, em matéria de outubro deste.

O medo de perder o medo é tão trágico quanto o medo de ganhar a liberdade.

O sistema teme os loucos, os poetas, os que no ápice da sua lucidez não negociam as perdas pela coragem assumida diante da defesa pela devoção ao ideal de libertação do jugo do medo.

MARCO ANTONIO BREGONCI
Enviado por MARCO ANTONIO BREGONCI em 14/12/2014
Reeditado em 13/02/2024
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