Amor sazonal

Todo mundo já viveu um amor sazonal: aquele de temporada, fulminante, que deixa a perna trêmula e o corpo suando frio. É intenso, mas ele termina tão (ou mais) rápido quanto começou, mesmo que se deseje o contrário. Amor sazonal é tragédia anunciada: tem data de início, mas também prazo de validade.

Amor sazonal é amor cruel, que machuca sempre. Ele cativa, galanteia e sacia por algum tempo, mas apenas o suficiente para dar lugar a uma dependência visceral. Dependência não saciada vira crise. O amor, outrora tão desejado, torna-se tortura. Disfarçada de abstinência, ela lhe consome por meio de um doloroso sentimento de vazio. Amor sazonal é amor torturador, afinal.

Amor sazonal é apenas um gatilho a disparar desejos incompletos. Sem as armas certas, o amor diário e a cumplicidade dos olhares sinceros são alvos inatingíveis. Amor sazonal é paixão sem qualquer concretude, fadada ao comodismo. É amor líquido, que escapa por entre nossos dedos. É platonismo frágil e fajuto.

Trocar os passos seguros de um amor recompensador por um andar cambaleante é mais que impulsividade: é desvario; desperdiçar a chance de espantar a superficialidade e mergulhar na certeza de uma cumplicidade diária, insanidade.

Amor sazonal é apenas uma humilde exclamação em uma sentença sem sujeito aparente. No máximo uma oração saudosista que, apesar de parecer perfeita, não deixa de estar no pretérito. Ignorar a existência de infinitos períodos, no presente e no futuro, é um contrassenso.

Ousemos arriscar além de nossas vontades mais fortuitas! Covardia não é deixar de viver nossos desejos mais imediatos, e sim não ousar estendê-los. Amor sazonal é apenas uma parte (insuficiente) daqueles que não se contentam com a covardia de um travesseiro vazio. Que os amores genuínos permaneçam, no fim das contas.