Reticências...

Gosto das reticências. Mais que isso, sou louco por elas, e a elas recorro sempre que preciso. E recorro sempre, porque preciso a todo instante...

Quando me faltam palavras para expressar o que me vai no vasto universo interior dos sentimentos, deixo o serviço por conta das reticências. E sempre me faltam palavras para expressar o que sinto, porque meu vocabulário e minha capacidade de expressão são mais limitados do que eu gostaria, já que sempre me fica a impressão de não ter dado o contorno preciso ao texto, de forma que ele pudesse expressar, com exatidão, o que eu gostaria de ter dito...

O socorro das reticências é sempre providencial, rápido, inequívoco. E - santa providência! - convida (intima mesmo) o leitor a participar do que está lendo, a interagir com o autor, e consigo mesmo, ao entrelaçar aquilo que foi escrito por outra pessoa com o que pensa ele próprio, com os seus sentimentos, com a sua história de vida, com os seus sonhos. Em outras palavras, as reticências são a deixa do autor para que o leitor pense, reflita sobre o que está lendo; e, como tal, um inescapável elo entre autor e leitor, nessa viagem única proporcionada pela leitura...

Mas não é só por essa razão que uso e abuso das reticências. Sou verdadeiramente apaixonado por elas porque, para mim, são como irmãs muito próximas do silêncio. E, por vezes, o silêncio se faz tão necessário quanto respirar; daí sua vital importância. Ora, mas o que tem a ver as reticências com o silêncio? - poderia o paciente navegante estar agora se perguntando!...

Para mim, tem tudo a ver. E tudo é, simplesmente, uma questão de conteúdo. Sim, de conteúdo!...

As reticências podem dizer - para mim sempre dizem - muito mais do que o que vem explícito a bordo das palavras que compõem o texto, bastando, para tanto, que se assuma que o universo interior do leitor (assim como o do autor) é muito vasto, e, diante da deixa proporcionada pela protagonista deste meu texto, certamente irá ampliar, enriquecer o propósito, o sentido do texto que se lê...

É exatamente o que ocorre com o silêncio. Sempre há (haverá) por detrás do silêncio mais conteúdo do que se poderia exprimir com palavras ditas - muito mais! Porque o silêncio também é amigo íntimo da reflexão, e esta a ponte que liga quem no silêncio mergulha ao porto seguro do seu universo interior, onde habitam todos os sentimentos que dão conteúdo e forma à sua alma...

Se quiser saber o quanto de conteúdo há no silêncio de alguém, basta olhar fundo nos olhos de quem silencia...