UMA FOZ NA FOZ DO VELHO CHICO

O catamarã não estava lotado, mas eram poucas as cadeiras em volta das poucas mesas que havia no convés, mas os muitos turistas já haviam ocupado todas – as mesas. Algumas com assentos sobrando. Meu olhar tímido não queria acreditar no convite das poltronas de plástico branco, esperava também alguma espécie de senha das pessoas que chegaram primeiro e confortavelmente se aboletaram sobre elas. Dei uma filmada geral, fiz o olhar do Gato de botas do Shrek e... nada. Ninguém parecia querer minha companhia. Casais de meia idade, casais de idade e meia, casais que não tinha idade para andar só e mais três moças, compunham os eleitos sentados. Eis que de repente uma das três moças me ofereceu uma cadeira vazia de sua mesa. Sentei.

Era um passeio turístico pela Foz do Rio São Francisco. Contando com o almoço custou fixo R$ 130,00, fora bebidas, lanchinho, tira-gosto e compra de souvenires. E elas mandaram bem em tudo isso. Calculando, acho que cada uma delas gastou cerca de R$ 200,00. Barato não? Certamente, e você pode estar pensando que elas eram empresárias, profissionais liberais, funcionárias públicas, ou outra profissão comum de encontrar entre os que fazem turismo. Errou.

A conversa com as baianas foi muito boa (não falei que elas eram baianas? Agora falei). Discorremos sobre viagens, outros lugares interessantes em Sergipe (que elas conheciam) e na Bahia e, num segundo momento sobre trabalho. Conversa respeitosa, não teve esse lance de insinuações, cantadas ou coisas do tipo. Sem querer me achar, pensei que elas iriam dar em cima de mim e talvez elas pensaram o mesmo a meu respeito. Muito educadas e comunicativas. Ai eu perguntei com o quê elas trabalhavam. Somos empregadas domésticas, responderam. Ficou chocado? Eu não. A conversa fluía normalmente. Elas perguntaram também sobre o que eu fazia. Disse que trabalhava num banco. Fazendo o quê? Quiseram saber. Disse que tinha um cargo técnico. De manutenção? Queriam detalhes. Eu disse que era mais ou menos, que era coisa de banco e se conformaram. Falaram sobre as patroas, horas extras não pagas, carteiras assinadas e outros assuntos pertinentes a qualquer trabalhador assalariado, assim como eu.

No final um simples tchau, sem trocar telefones, facebook ou qualquer outra informação.

Foi bom conhecê-las, foi bom o papo, foi bom o passeio.

Uma foz onde ninguém é oceano e ninguém é rio, somos todos águas que se encontram.