A moça da foto

Ele viu a moça na foto e se apaixonou. Desejou ardentemente a moça da foto e para ela compôs verso e prosa. Ignorando todos os avisos, ele julgou que sua busca pela perfeição cessara. Encontrara nela o ser etéreo que tantos anos ele esperara. Julgando ser verdadeiro.

Ilusão.

Suplicou por beijos, por carinhos, por sentimentos... rastejou, implorou e se humilhou. Esqueceu que as mulheres não querem homens que lhe prometam a lua e o céu. Esqueceu que as mulheres querem algo mais do que prosa e verso, que não querem homens que rastejem. Esqueceu que a moça da foto era só a moça da foto. Não havia nela, nada de encantado.

A moça é um encanto de pessoa. De pessoa. De ser humano.

Infelizmente, erraram os dois. Ele por desejar o que dela não poderia ter. Ela por não desejar o que dele poderia ter. E, ao abrir seu coração, seu espírito, sua vida, passado, presente e desilusões, a moça mostrou a ele o seu segredo. A moça permitiu que ele visse a matéria da qual de fato ela é feita.

E ao deparar-se com a realidade, de que ela é feita de carne tal qual ele é feito também, ele se desesperou. Não poderia amar alguém que fosse igual a ele. Alguém que fosse tão humanamente confeccionado de carne, osso e espírito como ele também o é. Desesperou-se por ter sido tão ignóbil a ponto de se deixar seduzir por uma imagem.

E assim, no seu desespero, ele voltou-se para dentro de si mesmo e de lá só sairá quando, enfim, outra foto, de outra moça aparecer.

E que a próxima moça seja de fato “Ela” e que ele seja, finalmente, feliz.

Margot Jung
Enviado por Margot Jung em 14/06/2007
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