Ensina-me a viver


Ensina-me a viver (Harold & Maude) foi um dos filmes que mais assistimos juntos, emocionando-nos com a candura e a meiguice de Maude e o patético dos “suicídios” de Harold e, principalmente com a sua trilha sonora, com todas as músicas de Cat Stevens, que adorávamos. E mesmo tendo-o assistido em algumas dezenas de tardes, a cada vez nos emocionávamos e descobríamos a beleza de novas passagens que fazíamos questão de comentá-las, ao final, você ainda com os olhos úmidos de pura emoção.

Se, por um lado, você adorava quando Maude roubava a árvore na cidade para replantá-la no bosque, com todas as peripécias da perseguição da polícia, de sua festa de despedida, quando enfeitou todo o trailler com gira-sóis de papel crepom, com os “suicídios” hilários de Harold procurando atrair a atenção de sua mãe, eu procurava despertar-lhe a atenção para outras passagens de maior profundidade, como quando ela joga no rio a medalha que ele lhe deu de presente, procurando transmitir a você que o essencial é invisível aos olhos, que tudo deve ser visto e sentido com o coração.

Procurava ressaltar os momentos em que ela evidenciava seu enorme amor pela vida, não se deixando abater pelos acontecimentos, por manter-se eternamente jovem, sem deixar que morressem os seus ideais, para a sua contagiante alegria de viver, julgando que, assim, estaria constituindo a base para a sua própria vida futura, mais feliz do que você já era, como se isto fosse possível.

E, de certa forma, via em vocês duas uma certa semelhança, na aparente fragilidade, na candura, na meiguice, na espontaneidade dos gestos, nas atitudes e olhares travessos e nos sorrisos sempre presentes em seus lábios, sorrisos meio que enigmáticos e zombeteiros, assim à Monalisa.

E julgava ter aprendido a mensagem final do filme, quando, após a morte de Maude, ele aparentemente se lança no precipício dentro de seu Jaguar negro com as linhas transmodificadas em carro-fúnebre e, finalmente, vê-lo no alto do morro dançando e tocando o banjo como ela ensinou, o que seria a essência do filme, o sabermos viver com felicidade, intensamente, a cada momento de nossas existências, apesar de tudo que nos aconteça.

E você partiu, de certa forma como a Maude, sorrindo cândida e suavemente, e deixando-me aqui sozinho, triste, desesperado e desesperançado, sem que tenha encontrado, ainda, um sentido para continuar vivendo sem você. E no turbilhão de meus pensamentos, vejo-me dirigindo meu carro a mil quilômetros por hora, loucamente em direção a um precipício, buscando seu sorriso, seu carinho, o aconchego de seu colo.

Chego a sentir sua mão suave em meu rosto enxugando-me as lágrimas, ouço sua voz chamando-me, carinhosamente, de “meu gordinho querido” e, novamente, tento tirar alguns acordes de meu sax, mudo desde que você tinha um aninho e chorava assustada todas as vezes que eu começava a tocá-lo...
LHMignone
Enviado por LHMignone em 22/09/2005
Reeditado em 05/10/2013
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