MINHAS PRIMAVERAS

MINHAS PRIMAVERAS

Fernando Alberto Salinas Couto

Hoje, pensava nas primaveras da minha infância, quando, após os estudos, me deixavam brincar, livremente, correndo pelas ruas de barro do nosso bairro. Lançava pipas, jogava pião, bolinhas de gude, futebol, etc. As crianças não corriam riscos , pois violência era uma raridade longínqua que, às vezes, os noticiários narravam (para quem tinha rádio). Lembrei que tive um patinho de estimação; na fazenda do patrão de meu pai eu brinquei muito com o Tiquinho, um meigo carneirinho, do qual só me restou uma foto.

Na praia, logo cedo corria, pelas areias, enfrentava as ondas, mergulhava e nadava. Não precisava envolver-me com protetores solares, porque ainda não tínhamos problemas com a camada de ozônio. Nas escolas respeitavam-se as professoras e os professores, os quais ensinavam de verdade. Uma nuvem cinzenta envolveu meu coração, ao perceber que a maioria das crianças, hoje em dia, nunca viram borboletas, pássaros, tartarugas, cavalos, rios navegáveis, carroças, etc. O pior é que, à mais de dez anos, já se configurava essa situação, mas os responsáveis contavam estórias, para os pequenos. Explicavam muitas coisas, desde que não fossem consideradas impróprias para aquelas idades.

Mas hoje, ainda que as pessoas estejam no mesmo ambiente, se comunicam através de um pequeno aparelho que a tecnologia colocou em suas mãos. Esse aparelho, escravo da internet, é muito útil e representa o progresso, inclusive ajudando pessoas que tem dificuldades em se locomover a fazerem compras e resolverem questões financeiras, sem precisar sair de casa. Mas, quantos bancários perderam emprego? E as pessoas que não tem acesso à essa tecnologia? E aqueles que, pela idade ou outro motivo, tem acesso, mas não sabem lidar com tanta modernidade. Na atual infância, pode-se viajar, pelo mundo, atravessando-se bosques e florestas, mas jamais sentir o perfume das flores ou o carinho de uma brisa.

Hoje, há crianças que conversam com os pais, o tempo todo, mas nunca sentiram, sequer um tapinha, quanto mais o abraço, o carinho de seus entes queridos. Pais controlam, através daquele aparelhinho, todos os passos de uma filha, mas nem sempre sabem quem está na companhia dela. Jovens namoram, através do aparelhinho, sem saber se a pessoa amada está nos braços de outrem. A primavera era marcada por muitos encantos, porém hoje até os meteorologistas tem dificuldades, para definir o início de uma estação e o início de outra. Quantas graças eu devo ao Criador? Obrigado Senhor, pelas primaveras que vivi!

RJ – 23/09/15

Fernando Alberto Couto
Enviado por Fernando Alberto Couto em 25/09/2015
Código do texto: T5394393
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.