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 AMIGA LEMBRANÇA
 
     Ó lembrança!  Minha amiga inseparável, fala comigo. Vamos agora bater um papo. Lembrar-nos das coisas boas. Esqueçamos um pouco as desagradáveis. Ah! É verdade. Não tem como esquecer, porque fazem parte de um todo, né. Lembra meu primeiro sapato? Lógico que lembra, pois você é a lembrança.  Às vezes eu me esqueço com quem estou falando.
     Minha amiga, você me lembrou do meu primeiro sapato que calcei? Era um calçado bem rústico, próprio para trabalhar na roça. Ah! Ganhei da senhora alemã rica fazendeira. E como fiquei feliz! Houve um pequeno problema? Sim, na hora de calçar. Calcei errado. O esquerdo no direito e vice-versa. Falei que serviu no meu pé, com medo que a senhora o pegasse de volta. Ela viu que estava errado e avisou. O que eu fiz? Você sabe o que fiz, porque você é a própria lembrança. Não tem como fugir de mim. Hum... nessa hora, eu todo sem jeito troquei os pés. Calcei certo. Se ela riu? Não! Ficou bem séria... pude até ver aqueles olhos azuis com algumas lágrimas. Na hora não entendi, mas há coisas nesta vida que só vamos entender depois de muitos anos, não é mesmo?
     A senhora rica há muito tempo já foi para o Céu, mas essa lembrança deixou comigo. O sapato não existe mais, mas a marca da bondosa alemã (alemoa, como diziam por lá), ficou gravado na minh’alma.
 
(Christiano Nunes)