O SILÊNCIO DO ELEVADOR

A vontade era de sorrir ao imaginar o que se passava na cabeça daquelas pessoas que estavam sendo transportadas para algum andar de cima daquele prédio comercial naquela manhã de terça-feira. Como se fossemos sombras juntamo-nos sem nos tocarmos e timidamente aguardávamos ansiosos nossos pontos de chegadas. Uma moça com seu vestido solto que lhe caia muito bem fixava o olhar na própria rasteirinha de detalhes dourados e, brincava com as pontas dos cabelos que lhe caiam aos ombros; um rapaz beirando aos trinta anos aparentemente, olhava ansioso para luzinha vermelha que indicava a localização de cada andar mordendo levemente seus lábios; uma senhora corpulenta de olhar carismático mastigava chiclete movimentando a boca de maneira engraçada e digitava sem pressa números no celular de capinha cor de rosa, um menino de mais ou menos cinco anos apertava a mão do pai com um sorriso de satisfação, enquanto o pai procurava algo no bolso utilizando a outra mão e, eu visivelmente sorrindo divertia-me com a expressão do rosto de cada um e a posição que meus companheiros de viagem estavam desde a entrada naquele elevador. Lembrei-me de uma brincadeira que quando criança gostava muito: alguém gritava stop, e a gente parava na posição que se encontrava até o comandante da brincadeira liberar o movimento novamente, e as rizadas eram muitas das divertidas posições que cada um ficava.

Assim estávamos naquele veículo, quase privados de nos mover. Naqueles segundos que éramos transportados fisicamente, nossos diversos pensamentos nos tiravam dali como se aquele momento não fizesse nenhuma diferença nas rotineiras mobilidades existenciais... O silêncio era quase fúnebre. Eu ia sair no quinto andar, portanto, resolvi ir até o último na esperança de ouvir algo dos meus companheiros de viagem. Porém, nada consegui. Aos poucos todos foram saindo nos seus respectivos andares de interesses individuais e o muito que vi foi um tímido sorriso do menino. A moça do vestido solto saiu ainda com a cabeça baixa e brincando com os cabelos; a senhora corpulenta ainda mastigava o chiclete divertidamente e mexia no celular, o rapaz de olhar ansioso quase não esperou abrir a porta totalmente, saiu em passos largos, e o pai do menino, ainda lhe segurando a mão saiu olhando um papel que estava na outra mão.

Outras pessoas entraram, apertaram seus números para os andares pretendidos e descemos no mesmo silêncio, mas com posições diferentes.

A impressão que se tem, é que nos tornamos surdos, mudos e cegos quando entramos em um elevador, os olhos fixos no piso ou teto ou paredes daquele veículo faz com que os segundos ou minutos dessa viagem sejam apagados das nossas mentes, parece não ter relevância... É quase como se fosse um sonho em um cochilo, sabemos que sonhamos com algo, mas não lembramos... É um silêncio diferente, incomodante, sinistro, bizarro, e porque não fantasmagórico?... Exagerando, é claro.