Da preguiça

A Vany escreveu uma crônica onde ela expôs sete justificativas para sua preguiça.

Lembro quando eu era criança, minha mãe falava pra mim: "quando você nasceu, a preguiça já existia". Acho que ela queria dizer que eu não deveria me apossar dela só para mim. Como ela já existia quando eu vim ao mundo, ela deveria ser compartilhada com todos.

Caso ela leia este texto, vai poder me corrigir se eu estiver errada.

E eu achei bacana a Vany relacionar preguiça com sensualidade. Então eu acho que, depois do gato, eu sou o bicho mais sensual que tem no mundo. Porque o gato é preguiçoso e sensual, hein! Já a preguiça é preguiçosa, lenta e lânguida. Mas, não sei. Depois que eu fiquei sabendo que os pêlos dela são duríssimos e dentro dele vivem centenas de tipos de parasitas, fiquei um pouco enojada e não vejo sensualidade nela não. Eu não saio da cama sem uma boa duma espreguiçada. Daquelas loooooooongas e contorcidas. Não nego uma espreguiçada para meus lençóis. Jamais!

Assim sendo, amiga Vany, eu tenho preguiça de pensar em sete justificativas, quanto mais de escrever sete. Me contento com uma só. Minha preguiça, Vy, só tem uma justificativa. No dia que eu nasci, ela se enganchou em mim e nunca mais me largou. Virou minha gêmea siamesa. E nós duas convivemos super bem. É claro que há situações em que ela me atrapalha um pouco. Mas, eu aprendi a ser seletiva. Então, algumas vezes, eu só tenho preguiça quando me é interessante ter. Outras vezes, sou muito dinâmica. E assim, ela se acomoda em mim e curte a sua própria preguiça. Não tenho intenção de abandoná-la. Minha preguiça pessoal me é necessária.

Tem um livro, que meu amigo Flávio Spricigo me indicou há cinco ou seis anos, chamado "Do direito à preguiça". Tenho dúvidas se é este mesmo o nome. Ou seria simplemente "Da preguiça". Não sei mais. Se alguém tiver uma versão em e-book e puder mandar por e-mail, agradeço a boa vontade. Taí uma circunstância em que não sou preguiçosa, ao contrário, generosa: nos agradecimentos. Dizem que sou generosa em mais coisas. Mas, não vou ficar jogando confete em mim mesma. Não nasci com a modéstia enganchada em mim. Prefiro me abster de me auto-elogiar.

Gostaria de ver a cara da minha mãe lendo isto aqui. Ela iria dizer que eu não tenho nem vergonha de assumir assim, tão descaradamente, minha condição de preguiçosa de nascença. Mas, mãe, gente toda, assumir seus defeitos pode fazer com que eles se tornem qualidade. Quando não, identidade.

Margot Jung
Enviado por Margot Jung em 09/07/2007
Código do texto: T557731